Uma recente reportagem de um canal de TV, num extenso telediário, mostrava como no aeroporto de Lisboa não se tomavam medidas especiais anti-Covid, nem sequer as previstas por Lei, que em contrapartida eram rigorosamente seguidas nos aeroportos da Madeira e dos Açores. Talvez o Governo pensasse, pelos vistos erradamente (como facilmente se depreenderia) que este excesso de facilitismo era o pretendido pelos hoteleiros, e o mais simplesmente desejado por possíveis visitantes.
Agora todos se mostram surpreendidos e com o orgulho nacional ferido, por o primeiro-ministro inglês agir como deve ser, na defesa dos seus nacionais. Mesmo pensando que eles tinham a coisa mais descontrolada do que nós, queríamo-los. Estranhamente, como alguns cá notaram (pois isso significaria fazerem por cá muitas infeções, o que o Governo de Inglaterra rejeita em vez de ser o nosso a fazê-lo, como devia). De qualquer modo, deve-se sobretudo ao laxismo nacional a posição inglesa, que pode ser seguido por outros. E os indícios é o de que as autoridades nacionais, políticas e de saúde que mandam em Lisboa, pensam continuar sem fazer nada contra a Covid-19, preferindo acicatar o orgulho nacionalista, e criticar o Executivo britânico, em vez de fazerem alguma coisa para combater a Covid.
O Executivo inglês limitou-se a fazer o mesmo que muitos nacionais, que preferem ir a lugares bem desconfinados e desinfetados, mesmo que isso lhes dê mais trabalho.
Fiquei francamente mal impressionado com uma entrevista recente do responsável pela luta anti-Covid 19 de Lisboa, num diário. Sobretudo depois de outras experiências catastróficas conhecidas, em países onde os líderes seguiram as medidas que me pareceu serem defendidas pelo dito responsável da ARS de Lisboa (sem ninguém perceber que, também aqui, e aqui já dolorosamente comprovado, a lógica é uma enorme batata).
Será que vamos lutar em Lisboa por uma inalcançável imunidade de grupo, como fizeram os EUA, o Brasil ou a Suécia, deixando morrer sem quaisquer resultados visíveis imensa gente, sobretudo mais velha – mas, pelos vistos, não só? Ou será que estou a exagerar, num caso que chegou atrasado a Lisboa, mas que a cidade estava também destinada a sofrer, sem controlo – apesar de afirmações em contrário, no que se refere ao descontrolo, de autoridades políticas?
E porque não são tomadas medidas na capital, semelhantes às de outras regiões? Só para deixar os hoteleiros satisfeitos? E eles ficarão satisfeitos quando virem os outros países fecharem-se ainda mais a Portugal? E não será isso que Portugal está a pedir a gritos? Ou irá vigiar melhor a chegada a Lisboa, ao menos, de voos procedentes de Estados mais complicados, como o Brasil – e não só? Um dia destes, apesar de Portugal parecer uma ótima ideia, por não ter qualquer clube na final, até a Champions (que tanto entusiasmou os nossos políticos em funções) vai desistir do País, mas com imensa razão. E não nos resta senão vender por aí, pelos vistos com algum sucesso nalguma imprensa (não acredito que chegue esse sentimento à grande maioria do eleitorado, certamente perplexa com a falta de controlo em Lisboa), o orgulho nacional ferido. A propósito de falta de controlo, registe-se o controlo defendido pela ministra da Saúde, que tão depressa se cola ao sentimento geral dos transportes públicos demasiado cheios, como garante não haver infeções nesses transportes públicos (que, apesar das imagens indesmentíveis, alguns ministros continuam a assegurar garantirem as distâncias mínimas anti-Covid; certamente com a mesma confiança com que anteriormente garantiam não serem precisas para nada as máscaras, que agora acham imprescindíveis).