por Pedro d'Anunciação
Achei graça a uma afirmação da escritora Lídia Jorge, que muito admiro, numa crónica de Antena 2 do ano passado, agora reunida em livro (‘Todos os Sentidos’, título geral das crónicas radiofónicas). Numa referência ao fim do cinema, numa conferência de João Botelho (a propósito do filme O Tubarão de Spielberg, aparentemente inspirado no Moby Dick de Melville, e que parece ser dado por ambos como o fim do cinema), ela fala também no fim da Literatura, que atribui aos populares livros que Bloom considerava irremediáveis.
Lídia Jorge atribui muito do que está acontecer aos modernos gadgets electrónicos (cada vez mais digitais e outras coisas). Mas ela não propõe o seu fim, certamente consciente da dificuldade e da impossibilidade de lutar contra o progresso. Propõe apenas que a miudagem seja levada a manter os sonhos e a imaginação criativa, com o uso destes gadgets.
Eu, que penso ser mais ou menos do tempo da Lídia Jorge, já me lembro de muita gente lamentar nessa altura o fim do pensamento político por cá. Mas ele terá havido alguma vez? Lembro que na Europa só dois países têm tradição no pensamento político, que vai da direita radical à esquerda radical, passando pelos vários meios (Alemanha e França). E se dantes já eram poucos a pensar por cá, agora talvez sejam menos.