A relação entre Filipe VI, Rei de Espanha desde 2014, e o seu pai, Juan Carlos, nunca foi fácil.
Quando, em março, o Rei de Espanha disse que iria renunciar à herança do seu pai por este estar a ser investigado pelas autoridades suíças por ter recebido, em 2008, 100 milhões de dólares da Arábia Saudita via contas offshore e que também ia retirar a Juan Carlos as ajudas de custo anuais que este recebia, os jantares de família que se seguiram devem ter sido bastante embaraçosos e azedos.
«Em coerência com as palavras proferidas no seu discurso de tomada de posse e com a finalidade de preservar o exemplo da Coroa, sua majestade o Rei quer que seja sabido publicamente que sua majestade o Rei Dom Juan Carlos está ciente da decisão de [o primeiro] ter abdicado da herança que lhe possa corresponder pessoalmente, bem como a de qualquer ativo, investimento ou estrutura financeira cuja origem, características ou finalidade possam não estar em consonância com a legalidade ou com os critérios de retidão e integridade que regem a sua atividade institucional e privada e que devem espelhar a atividade da Coroa», podia ler-se num comunicado lançado na altura que esta decisão foi anunciada.
Afastar o filho do pai e das suas controvérsias (Felipe VI, de 52 anos, nega qualquer tipo de conhecimento ou envolvimento no caso acima citado), foi a solução encontrada pelos apoiantes da monarquia para manter este sistema ativo no país e que estão prontos, se necessário, para a hipótese de expulsar Juan Carlos do Palácio de Zarzuela, residência da família real.
«Como Governo estamos constantemente a trabalhar para garantir que as instituições continuam a trabalhar e que a monarquia constitucional, na figura do Rei Felipe VI, está a cumprir o seu trabalho constitucional de uma forma absolutamente correta», disse a vice-presidente Carmen Calvo.
O regime monárquico vive um momento muito delicado. Depois do El País ter publicado uma notícia com o título, «Corinna Larsen declarou que Juan Carlos I lhe deu 65 milhões ‘por gratidão’ e não para esconder o dinheiro», a ativista social catalã e presidente da câmara de Barcelona, Ada Colau, acusou a monarquia espanhola de ser «corrupta» e propôs a realização de um referendo para instaurar a República em Espanha.
«É um escândalo em todas as explicações possíveis. Temos uma monarquia corrupta que não merece continuar a acumular privilégios e impunidade», escreveu a política nas suas redes sociais acompanhada pela hashtag: #ReferendoRepublicaJá.
O partido Unidas Podemos considera que todos estes escândalos «abrem um debate sobre a utilidade da monarquia» e «põem em causa» Filipe VI.
A deputada deste partido, Gloria Elizo, terá ido mais longe e disse ao El Español que «a única forma de separar Juan Carlos do governo é através da abdicação de Filipe VI e da convocação de um referendo sobre a monarquia».
A realidade é que todos estes escândalos não tem ajudado a popularidade da monarquia em Espanha, segundo uma sondagem publicadas em institutos de opinião como a Electomania/CTXT, IPSOS GlobalAdvisor, estes referem que a popularidade monarquia está abaixo dos 50% e que 6 em cada 10 inquiridos são a favor de um referendo.