Mário Centeno assumiu esta segunda-feira a liderança do Banco de Portugal. Na tomada de posse, o ex-ministro das Finanças disse que «não cabe ao Banco de Portugal viver para si próprio e fechado sobre si próprio. Isso não assegura a independência, cria antes a irrelevância», considerando que não depende da instituição ter «estados de alma». Por outro lado, lembrou que o órgão regulador, com o seu trabalho, a sua capacidade de adaptação e os seus colaboradores, deve «fazer melhor e adotar novas abordagens que aprofundem o desempenho das instituições». E acrescentou: «Não acredito em estratégias de dividir para reinar».
Centeno sublinhou ainda que o supervisor desempenha um papel «fulcral, seja quando consegue cumprir com sucesso os seus objetivos, o que tantas vezes não é percebido pela sociedade, seja quando falha nesse cumprimento, o que tem sempre enormes impactos e visibilidade».
O ministro das Finanças, João Leão, que também discursou na cerimónia, felicitou o seu até aqui superior direto na orgânica do Executivo, alertando que ocupará o cargo de governador num quadro exigente, criado pela pandemia de covid-19, mas mostrando-se otimista relativamente à nomeação: «Estou confiante que Mário Centeno é a pessoa certa para liderar o BdP neste momento exigente». E refere: «Queria destacar a independência e sentido de missão que norteou a ação do BdP neste período. Entre outros marcos, recordamos a defesa intransigente da estabilidade financeira e do reforço dos mecanismos de supervisão, para além da progressiva modernização de uma instituição tão importante como o BdP».
Segundo Centeno, o BdP enfrenta quatro desafios estratégicos: assegurar uma «supervisão eficiente e exigente»; «participar e influenciar a política monetária da zona euro»; «definir uma política macroprudencial que assegure a estabilidade do sistema financeiro»; e «credibilizar as estratégias, os mecanismos e o processo de resolução bancária».
A escolha de Centeno para o cargo foi polémica, pelo facto de este responsável passar diretamente do Ministério das Finanças (onde foi ministro até junho) para o BdP, quando em 9 de junho foi aprovado no Parlamento, na generalidade, um projeto do PAN que estabelecia um período de nojo de cinco anos entre o exercício de funções governativas na área das Finanças e o desempenho do cargo de governador.