Um Alfa Pendular da CP descarrilou esta sexta-feira à tarde perto da estação de Soure, distrito de Coimbra, quando colidiu com um veículo de manutenção da Infraestruturas de Portugal (IP). Dos 212 passageiros que seguiam nas carruagens, dois morreram, 43 ficaram feridos, sete dos quais com gravidade, segundo os últimos dados do comando Distrital de Operações (CDOS) de Coimbra. As vítimas mortais eram os dois trabalhadores do veículo que fazia manutenção.
O maquinista do comboio de alta velocidade que circulava no sentido sul-norte foi de imediato transportado para o Hospital da Universidade de Coimbra, onde se encontrava, até ao fecho desta edição, em estado grave. O comboio tinha saído de Santa Apolónia, Lisboa, às 14h00 e tinha como destino a cidade de Braga.
Na mesma linha e no mesmo sentido em que seguia o Alfa Pendular estava uma máquina que se encontrava a reparar a respetiva linha – tendo sido esta a causa do acidente. Por apurar, está ainda qual a velocidade a que o comboio seguia naquele momento, qual o motivo para estar uma máquina de reparação numa linha onde circulavam carruagens e ainda o que falhou para que não tenha sido possível efetuar uma travagem antes do embate. A linha do Norte é a linha que regista maior tráfego, tem cerca de 600 circulações diárias.
O alerta foi recebido pelo Comando Distrital de Operação e Socorro (CDOS) às 15h30, foi de imediato montado um Posto Médico Avançado, ou hospital de campanha, junto ao local onde o comboio descarrilou e foi prestado apoio psicológico aos passageiros que seguiam nas carruagens do comboio de alta velocidade pelas equipas do INEM. Também ontem foi aberto um inquérito para apurar responsabilidades e perceber se houve falha humana, ou falha técnica, e os técnicos do Gabinete de Prevenção e Acidentes Ferroviários estiveram no local do acidente.
Pouco depois da colisão, Marcelo Rebelo de Sousa, deixou uma nota no site da Presidência da República Portuguesa, lamentando «o grave acidente ferroviário na Linha do Norte, de cujos detalhes foi informado pelo Ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, apresentando sentidas condolências aos familiares e amigos das vítimas mortais e desejando rápidas melhoras aos numerosos feridos, aguardando os resultados das investigações técnicas e judiciais».
Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas, deslocou-se ao local do acidente, onde lembrou «os trabalhadores da IP que fazem a manutenção da nossa rede ferroviária».
«O alfa pendular, a infraestrutura ferroviária, a sinalização, são hoje sistemas modernos que garantem uma grande segurança. A ferrovia é um dos meios mais seguros, mas infelizmente acontecem acidentes».
Sobre as causas do sinistro, Pedro Nuno Santos considerou «prematuro errado estar a especular sobre as causas do acidentes» e defendeu sempre a segurança da ferrovia em Portugal, tendo em conta o baixo número de acidentes registados. Questionado sobre o investimento na ferrovia, o ministro responsável pela pasta das Infraestruturas referiu que o mesmo «está a ser feito, neste momento, sem precedentes nas últimas décadas». «Se há momento em que realmente se começou a investir na ferrovia, foram nestes últimos anos».
A modernização na linha do Norte e as suas variantes
A linha onde se deu o acidente foi alvo de obras de modernização nos últimos anos. Aliás, em 2015, foi adjudicada a empreitada «Linha do Norte- Modernização do Subtroço Alfarelos-Pampilhosa – Renovação Integral de Via entre as Estações de Alfarelos e Pampilhosa». O site da Infraestruturas de Portugal refere que o valor da empreitada foi de 30,5 milhões de euros, «33% abaixo do preço base».
«A empreitada está integrada num conjunto de investimentos, ao longo da Linha do Norte, com financiamento comunitário, que totalizam 400 milhões de euros e deverão estar executados entre 2016 e 2020», lê-se no site, onde é acrescentado que o objetivo seria eliminar «constrangimentos e aumentar os níveis de segurança e fiabilidade da infraestrutura».
Já este ano, o Conselho Superior de Obras Públicas (CSOP) defendeu que devem ser construídas variantes à Linha Norte «tão rapidamente quanto possível» para aumentar a capacidade e para gerir o tráfego daquela linha, segundo informação citada no início de julho pelo Público.
Os acidentes mais graves com comboios
Aconteceu há 35 anos o acidente mais grave de que há registo em Portugal. No dia 11 de setembro de 1985, perto da estação de Moimenta-Alcafache, na Linha da Beira Alta, uma carruagem do Sud Express embateu numa outra carruagem de um comboio regional.
A colisão foi de tal forma violenta que o relatório da CP dava conta, na altura, de cerca de 150 vítimas mortais. Na altura, muitos corpos ficaram por identificar, ficando os relatos de restos mortais que eram confundidos com os destroços das carruagens.
Em 2016, um comboio da CP descarrilou quando fazia o percurso entre Vigo e a cidade do Porto. O acidente aconteceu quando o comboio se aproximava da estação de Porriño, tendo embatido num poste de eletricidade.
Dos 60 passageiros que seguiam naquele comboio, quatro morreram e 47 ficaram feridos. O acidente ocorreu em 2016, mas só em 2019 foi concluído o relatório Comissão de Investigação de Acidentes Ferroviários espanhola. Segundo o relatório, «a causa direta do acidente foi o descarrilamento motivado pela passagem do comboio […] na estação de Porriño […] a uma velocidade de 110 km/h, quando a velocidade estabelecida para passar […] era de 30 km/h». «Os indícios apontam para uma falha de atenção na condução», referia o documento.