Lar de Reguengos de Monsaraz não cumpria as normas da DGS, segundo Ordem dos Médicos

“Vários doentes estiveram alguns dias sem as terapêuticas habituais, por falta de quem as preparasse ou administrasse” e que “houve casos de preparação e administração de fármacos por pessoal sem formação de enfermagem”, afirma a Ordem. 

Uma investigação da Ordem dos Médicos concluiu que o lar de Reguengos de Monsaraz, onde um surto de covid-19 matou 18 pessoas e infetou 162, não cumpriu com as normas da Direção-Geral da Saúde para evitar a propagação do novo coronavírus.

Segundo o relatório, citado pela Lusa, não era possível cumprir "o isolamento diferenciado para os infetados ou sequer o distanciamento social para os casos suspeitos" no lar de idosos. "Não existia, por exemplo, definição de circuitos de limpos e de sujos, o que foi feito apenas a 26 de junho, nove dias depois de ter sido confirmado o primeiro caso", pode ler-se no relatório da auditoria. 

"Os recursos humanos foram insuficientes para a prestação de cuidados adequados no lar, mesmo antes da crise de covid-19, uma situação que se agravou com os testes positivos entre os funcionários, que os impediram de trabalhar", consta na nota assinada pela Ordem dos Médicos. 

O lar é ainda acusado de não tratar os doentes "de acordo com as boas práticas clínicas", com responsabilidades "para quem, sabendo que não tinha os recursos humanos adequados e preparados, permitiu que esta situação se protelasse no tempo" e de não prestar os devidos cuidados a diversos pacientes. "Vários doentes estiveram alguns dias sem as terapêuticas habituais, por falta de quem as preparasse ou administrasse" e que "houve casos de preparação e administração de fármacos por pessoal sem formação de enfermagem", afirmam.

O lar de Reguengos de Monsaraz acabou por se tornar um local onde ocorreu a a "rápida disseminação" da doença, "com responsabilidades para quem geria o espaço, o processo de rastreio epidemiológico e a aplicação das normas da DGS" e, segundo a Ordem dos Médicos, a "desorganização e consequente prejuízo para os doentes" é atribuível à Autoridade de Saúde e à ARS do Alentejo, que nunca visitou o local para " avaliar localmente estas circunstâncias"e "delegou as funções, designadamente no ACES [Agrupamento de Centros de Saúde], cujo diretor clínico foi designado pelo presidente da ARS como responsável do pavilhão". 

A investigação refere também que "os responsáveis, que foram alertados pelos profissionais, não agiram atempadamente e em conformidade, mantendo os doentes em circunstâncias penosas e facilitando o crescimento do surto, antes da transferência para o pavilhão".

A Ordem aponta ainda que transferência dos utentes para um "alojamento sanitário" no Pavilhão Multiusos do Parque de Feiras e Exposições da cidade foi tardia, visto só ter acontecido mais de duas semanas depois do início do surto, "quando já se contabilizavam 8 mortos e 138 casos ativos".

O relatório já foi enviado ao Ministério Público, Ministério da Saúde, Direção-Geral da Saúde e à Ordem dos Advogados, que irá tomar as medidas devidas em relação ao assunto.