A tão anunciada exposição de fotografias no salão nobre da Câmara Municipal de uma cidade vizinha, sob o tema ‘As mulheres e o mar’ foi, repentinamente, anulada. O artista tem 73 anos, é francês e reconhecido culpado de um crime de violação ocorrido em 1999. Foi julgado e condenado a cinco anos de prisão, tendo cumprido três. A vítima foi a sobrinha, na altura com 18 anos recém-cumpridos. O crime sexual ocorreu na casa familiar, na costa Esmeralda. Um lugar idílico para um ato repugnante. De acordo com os munícipes, Plisson tem o direito de refazer a sua vida, exercer a sua profissão e integrar-se na sociedade, mas longe e em surdina. Após a forte contestação dos habitantes locais, o presidente da Câmara decidiu anular a exposição.
Na mesma semana, o Ministério Público francês abriu uma nova investigação para averiguar as acusações de violação que recaem contra Gérard Depardieu. A denúncia foi feita por uma jovem atriz que argumenta ter sido abusada sexualmente pelo ator em agosto de 2018 durante um ensaio para uma peça de teatro no seu hôtel particulier no 6ème arrondissement. A queixa já tinha sido apresentada anteriormente mas, após nove meses, a investigação foi suspensa por falta de indícios. O mais provável é que um novo juiz seja escolhido para relançar o processo.
Um ex-ministro britânico e deputado conservador, (cujo nome não é conhecido) foi detido, também ele, por ser acusado de violação. Os atos terão ocorrido em várias ocasiões entre julho de 2019 e janeiro de 2020. Dito senhor, pagou a fiança e está em liberdade. Por enquanto. Boris Johnson (do mesmo partido do implicado) já fez saber que as acusações são muito graves, mas manteve-se reservado nos comentários. No Reino Unido, espera-se uma atuação exemplar por parte da justiça.
Nos anos 70, Roman Polanski foi condenado por abuso sexual de menores. O mais desejado e enigmático realizador em França foi, durante muito tempo, o mais procurado fugitivo americano. Para evitar a prisão, Polanski reconheceu os crimes e pagou uma indemnização às vítimas. No entanto, a justiça tarda, mas não falha. Em 2009, foi detido na Suíça e condenado a prisão domiciliária a pedido dos Estados Unidos, onde é persona non grata. O seu último filme, J’accuse, foi reconhecido no festival de Cannes do ano passado, tendo sido atribuído o César de melhor realizador a Polanski. Curiosamente, nenhum membro da equipa esteve presente na cerimónia e a plateia não se conteve em assobios e gritos de revolta quando o prémio foi anunciado.
Estes casos apresentados não são isolados e têm em comum terem sido cometidos por figuras públicas. Os crimes sexuais sempre aconteceram. Mas afinal, o que mudou? Quase tudo. O movimento #MeToo, que teve origem nos Estados Unidos em outubro de 2017, tornou-se viral graças às redes sociais. A caça ao homem tem sido imparável e nem os mais poderosos foram poupados. Que o digam o produtor Harvey Weinstein e o rico homem de negócios Jeffrey Epstein. O primeiro divorciou-se e está irreconhecível. O segundo preferiu acabar com a vida mesmo antes de ser julgado. Basta uma notícia na internet para o verniz estalar. O poder e o dinheiro não resistem às acusações na praça pública. Todos são culpados até prova do contrário. E não são apenas as feministas que apontam o dedo ao homem libidinoso, promíscuo e abusador.
Atores, realizadores, produtores, músicos, políticos, desportistas, chefs de cozinha, médicos, investidores, presidentes de grandes empresas, membros do clero… ninguém escapa ao gatilho pronto a disparar! Às vezes, olhar já é crime. A sociedade destapa tabus e dá voz a vozes caladas durante demasiado tempo. No entanto, uma questão tem dividido as opiniões: será legítimo separar a obra do homem?