Alexander Lukashenko, Presidente da Bielorrússia, venceu as eleições presidenciais pela sexta vez consecutiva, mas este não é o principal ponto a reter do que aconteceu no país do este da Europa.
A candidata da oposição, Svetlana Tikhanovskaia, rejeitou os resultados oficiais das presidenciais de domingo e pediu ao Presidente para ceder os comandos do país.
“O poder deve refletir como pode ceder-nos o poder. Considero-me vencedora das eleições”, disse à imprensa antes da ida às urnas, mostrando uma grande confiança no apoio que estava a receber por parte da população.
“Acredito no que veem os meus olhos e vejo que a maioria está connosco”, disse a candidata, que durante a sua campanha mobilizou enormes multidões. Num dos seus comícios, em Minsk, chegaram a estar presentes mais de 60 mil pessoas.
Svetlana Tikhanovskaia, uma antiga professora de Inglês sem experiência política prévia, assumiu o desafiou de enfrentar Lukashenko depois de o seu marido, o youtuber Syarhey Tikhanouski, que pretendia candidatar-se às eleições, ter sido detido, em maio. A candidata, que conseguiu 9,9% dos votos, denunciou a repressão das manifestações contra a reeleição do Presidente, que culminaram num morto, dezenas de feridos e cerca de três mil detidos.
Manifestações violentas “Um jovem foi vítima de um traumatismo craniano depois de ter sido atingido por um veículo” das forças da ordem durante as manifestações no centro da cidade, indicou a ONG bielorrussa de defesa de direitos humanos Viasna, acrescentando ainda que há dezenas de pessoas feridas nos hospitais de Minsk.
A polícia utilizou granadas sonoras e balas de borracha para dispersar os manifestantes no centro de Minsk, onde milhares de pessoas se reuniram durante a noite. Contudo, a revolta não foi apenas sentida na capital da Bielorrússia.
“No total, em todo o país, cerca de três mil pessoas foram presas (…) durante confrontos. Mais de 50 cidadãos e 39 polícias ficaram feridos e alguns estão hospitalizados”, anunciou o Ministério do Interior de Minsk.
“Estamos fartos de [ser tratados desta forma]”, confessou um dos protestantes ao Guardian. “Estamos fartos destes [resultados das eleições], que são uma cuspidela na cara”. Outro manifestante terá dito que as pessoas saíram à rua “porque se sentem enganadas”. “Quando anunciaram que Tikhanovskaia apenas teve 6% [dos votos] (…), foi um ultraje”.
O especialista na Bielorrússia David Marples disse também ao jornal britânico que este “é certamente o maior protesto que já [viu] na Bielorrússia desde que Lukashenko chegou ao poder”, no distante ano de 1994. “Em termos de eleições organizadas por Lukashenko, nunca houve nada assim. Parece-me que todo o país está a favor da mudança”.
Além da pressão da polícia, vários manifestantes e jornalistas queixaram-se da dificuldade em aceder à internet, nomeadamente ao Telegram, Twitter, Viber o WhatsApp, ou a sites de informação que estejam mais próximos da oposição, como o Tut.by ou o Radio Liberty.
As eleições na Bielorrússia vão continuar a dar que falar. Ontem, a União Europeia reclamou a contagem “precisa” dos votos e condenou a “violência estatal desproporcional e inaceitável”, tendo exigido a libertação imediata dos detidos. “É essencial que a Comissão Eleitoral Central publique os resultados que refletem a escolha do povo bielorrusso”, pode ler-se no comunicado divulgado pela União Europeia.