Tal como acontece com o Snapchat, não é fácil para um cota entender o fenómeno do TikTok. Um olhar não treinado dirá que os conteúdos são todos iguais, fúteis, que não passam de uns miúdos a fazerem umas danças sem jeito nenhum. Que seja! Mas, pela primeira vez, há uma rede social que nasce e cresce junto de uma faixa etária que nem devia poder ter perfis nas redes sociais. Esta variação do vírus da adolescência, conhecido por adolescente dançante, já afeta mais de 800 milhões em todo o mundo. Começou em 2016.
Enquanto a ‘ganapada’ vai torcendo os braços e fazendo carinhas de pato, a inocente aplicação vai recolhendo informação, dados, dos seus utilizadores. Os dados são a matéria prima a partir da qual se vão criar perfis, segmentar publicidade ou criar tendências, por exemplo. Algo em que a maioria das empresas investe fortemente, sob pena de não conseguir chegar ao seu público quando, onde e da forma que mais interessa.
O TikTok é a sétima rede social mais utilizada no mundo. Mas com uma grande diferença para as restantes plataformas, a sua origem: o TikTok é chinês, o que deixa a administração Trump preocupada. Trump já ameaçou proibir o TikTok nos Estados Unidos, tal como já não é permitida a sua utilização na marinha ou no exército do país. Para Donald Trump e muitos dos seus correligionários, a proximidade da aplicação ao partido comunista chinês é uma ameaça para a segurança americana. Imaginar que o inimigo encapuzado possa dispor de tantos dados sobre os americanos é um pesadelo. Mas se as suspeitas se confirmarem, os americanos já chegam tarde.
A solução para a questão TikTok pode estar na Microsoft. A empresa confirmou, num primeiro momento, a intenção de comprar a operação americana, canadiana, australiana e neozelandesa do TikTok à ByteDance. Nos últimos dias coloca-se a possibilidade de aquisição de toda a companhia, por um valor que maginar que o inimigo encapuzado possa dispor de tantos dados sobre os americanos é um pesadelo. Mas se as suspeitas se confirmarem, os americanos já chegam tarde.pode rondar os trinta biliões de dólares. Para a Microsoft o negócio faz sentido, a empresa nunca conseguiu afirmar-se no ambiente mobile, o habitat natural do TikTok. Nas redes sociais também não tem uma presença de relevo. Quanto a soluções direcionadas para um público jovem a Microsoft tem todo o universo Xbox que, apesar de fidelizar muitos jogadores, está limitado a uma tipologia de conteúdos e que, enquanto rede, está muito longe da ubiquidade do Facebook ou do Instagram.
Para a administração americana uma possível aquisição do TikTok pela Microsoft também é percebida como um bom negócio. Foi certamente um dos temas centrais da reunião do presidente Trump com Satya Nadella. Trump já ameaçou fechar o TikTok se o negócio não ficar concluído nos próximos quarenta e cinco dias. Discutir-se com a administração a aquisição de uma empresa privada por outra é no mínimo original num país como os Estados Unidos. O que dizer de uma ameaça de ou é nossa ou então não é?
A memória é curta e serão poucos os que ainda se lembram do escândalo Cambridge Analytica. Trump usa e abusa das redes sociais, ao ponto de terem sido implementadas funcionalidades de fact checking no Tweeter e do próprio Facebook ter eliminado uma das suas publicações sobre covid-19. Mas a tentação pela rede social é grande e difícil de resistir: nos últimos dezoito meses o número de adultos americanos a utilizarem o TikTok quintuplicou e, com eleições marcadas para novembro, a importância da plataforma só tende a aumentar.
Poucos duvidam do papel central que as redes sociais vão desempenhar na disputa da preferência dos eleitores, provavelmente mais do que nunca devido às limitações impostas pela covid-19. Trump procurará tirar o máximo proveito destas plataformas, Bidden também. Provavelmente caberá à Microsoft a monitorização dos conteúdos, apesar de todo o envolvimento de Trump neste possível negócio. Será que a Microsoft tem condições para desempenhar este papel? E se o TikTok continuar a ser chinês, será assim tão diferente? Aguardemos os próximos desenvolvimentos até porque o governo chinês poderá ter qualquer coisa a dizer sobre o negócio.