Por Vasco Pinto
Estudante de Engenharia Mecânica do Instituto Superior Técnico
Sou aluno do Instituto Superior Técnico e este semestre foi atípico. A pandemia trouxe à minha faculdade desafios novos e expôs um preconceito à vista de todos.
Na sala de aula virtual os professores habituaram-se às tecnologias inevitáveis a que o confinamento nos obrigou e foram rápidos, mas rigorosos, em implementar um método que funcionasse para todos.Em momentos de avaliação não foram intransigentes com falhas na internet, dando várias possibilidades de os alunos submeterem a resolução por vários canais, pois todos conhecem aquela sentença que, se algo pode correr mal, então vai acontecer no pior momento possível.
Porém, o problema nunca esteve na gestão dos recursos informáticos, nem na adaptação dos professores a esta nova esfera pedagógica. O preconceito já cá estava, muito antes da pandemia vir, está, aliás, enraizado na maioria de todos nós: partir do princípio de que há fraude.
A apreensão e desassossego de alguns professores com a fraude nos momentos avaliativos levou, com sucesso, à criação de medidas mitigadoras da mesma, porém desprotegeram os alunos honestos. As medidas passaram pela separação do teste em várias perguntas online, impossibilitando os alunos de emendar as respostas anteriormente dadas uma vez submetidas. Tinham poucos minutos para responder a cada pergunta e não podiam escolher por qual começar, ler o teste primeiro e deixar algumas perguntas para o fim deixou de ser possível neste ambiente. Outras medidas passaram por não separar o teste, mas tornar a sua resolução mais difícil no tempo de teste estipulado. De facto, os alunos não tinham tempo para recorrer a um colega ou um repositório físico/virtual de informação. Aliás, nem tinham tempo sequer para pensar na resposta, pelo que o raciocínio lógico normal num curso de Engenharia desaparece e tomam lugar “receitas” memorizadas de resoluções para vários problemas. Combate-se a fraude e o raciocínio crítico.
Garantir o combate à fraude deve ser um objetivo dos professores, é afinal uma ocorrência potenciadora de desigualdades entre os alunos honestos e desonestos, mas não deve prejudicar todos alunos. A estratégia deverá passar por prejudicar apenas os alunos falazes. Porém, as medidas supracitadas lesaram a todos, apenas mais um pouco aqueles que nada estudaram e contavam com a cábula. E isso é uma grande diferença.
O problema não é só dos professores, é de todos nós, quase sempre partimos do princípio de que alguém, à mínima hipótese, irá ludibriar as regras, não só na escola, mas ao longo de toda a vida.
Estou certo de que a minha faculdade fará questionários aos alunos e corpo docente sobre o sucesso (ou não) do software escolhido para as videoaulas, poderão até averiguar sobre a ansiedade dos alunos por estarem confinados em casa, questões pertinentes. O problema é: será que as perguntas dos questionários revelarão a sensibilidade da faculdade em reconhecer o preconceito de partir do princípio de que há fraude?