Tenho assistido de forma inquieta à incrível desproteção a que as vítimas de violência doméstica estão sujeitas. Não é nada de novo. No entanto, por cada uma delas, irei fazer um comunicado! As vítimas não são números embora através delas consigamos chegar às conclusões mais aterradoras e inquietantes sobre a mentalidade que prevalece no nosso país. A senhora que foi brutalmente assassinada com oito disparos, já estava sinalizada como vítima de violência doméstica e tinha uma ordem de restrição.
No entanto, ainda não existe um músculo que queira fazer das vítimas, mulheres, com direito a cartão de cidadão e as queira pôr de nacionalidade portuguesa neste país! A vítima tinha na sua posse um “dispositivo de localização” mais conhecido como dispositivo de tele-assistência. Dar às vítimas de violência doméstica, espancadas, ameaçadas de morte, um “telemóvel” com gps que apenas serve como bengala psicológica, não lhes vale de muito, apenas se quisermos que este seja de facto o único meio de proteção das vítimas, continuando mesmo em casos de condenações a deixar os agressores à solta sem a supervisão dos seus movimentos por meio da pulseira electrónica, permitindo assim autênticos massacres como temos vindo a assistir e como aconteceu hoje!
“Ana Maria Melo, de 55 anos, estava a caminho de uma fábrica de fumeiro, onde trabalhava, quando foi assassinada. Seguia acompanhada por uma amiga, de 36 anos, que sofreu ferimentos numa perna.”
Esta senhora tinha dois filhos, ambos perdidos como de costume em mais um homicídio! Carregar no botão, não chega, quando temos uma arma apontada à cabeça e também não chegava se o agressor estivesse à nossa espera na esquina do vizinho, pois as vítimas são como presas, estando totalmente às escuras sem saber onde anda o predador, com este “botão de pânico”! Apenas as pulseiras electrónicas são eficazes mas até para as mesmas é preciso o consentimento do agressor. E até para as mesmas é preciso as vítimas aparecem quase mortas. Vou terminar fazendo a seguinte questão, se Ana Carvalho, tivesse levado dois tiros, ficado tetraplégica, com todas as suas imputações, era aí que lhe davam a medida da pulseira electrónica? Fica a pergunta e também a vergonha do que se passa neste país!
Uma vítima não é um número; é uma vida cheia de vidas e uma história carregada de estórias.
Quero então relembrar a Ana Maria Melo. Da morte lembraremos e da resistência lutaremos. Hoje e sempre!