Migrantes detidos após motim no Porto

Cidadãos marroquinos terão de ficar mais 30 dias retidos. Foram ainda presentes a tribunal para conhecer as medidas de coação, depois de terem protagonizado um motim no Centro de Instalação Temporária do Aeroporto Francisco Sá Carneiro.

Onze dos 22 migrantes marroquinos que chegaram em junho a Portugal, tendo sido intercetados pelas autoridades em Loulé, fizeram, esta quinta-feira, um motim no Centro de Instalação Temporária (CIT) do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, depois de terem ficado a saber que teriam de ficar retidos mais 30 dias naquelas instalações. 
Segundo o JN, quando foram notificados da decisão de prolongar a retenção, pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, o grupo reagiu de forma violenta, destruindo mesas, cadeiras e até provocando estragos em paredes. Também outros cidadãos estrangeiros retidos terão sido atingidos pela fúria, que só foi travada com a intervenção do Corpo de Intervenção da PSP.

À Lusa, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras explicou que o Tribunal de Loulé determinou a manutenção dos cidadãos marroquinos nos Centros de Instalação Temporária por mais 30 dias por questões formais. A decisão judicial foi tomada «enquanto se aguarda autorização das autoridades marroquinas para execução do seu afastamento, atentos os constrangimentos vigentes face ao contexto de combate à pandemia de covid-19»
Na sequência do incidente, os migrantes foram entretanto presentes a tribunal.

Membros do grupo já tinham tentado a fuga
Recorde-se que este não é o primeiro incidente envolvendo elementos deste grupo: no início do mês passado três elementos haviam fugido, acabando, no entanto, por ser intercetados pela PSP.
O SEF está agora a acompanhar a evolução da situação em estreita colaboração com a PSP.

A rota que as autoridades dizem ser prematuro confirmar

Desde dezembro que houve já meia dezena de desembarques de migrantes em Portugal, tendo o último sido registado a 23 de julho – um grupo de 21 migrantes, também marroquinos, que desembarcou ilegalmente na praia da ilha do Farol, em Faro, e que depois de ser presente a tribunal, foram levados para uma ala à parte do estabelecimento prisional do Linhó.

Apesar do registo de sucessivos desembarques num espaço de tempo relativamente curto, Cristina Gatões, diretora do SEF tem defendido que ainda é «prematuro» falar de uma rota de imigração ilegal. 
«Passado este tempo [desde o primeiro desembarque, em dezembro] é inquestionável e é inegável que houve uma sucessão muito próxima no tempo de desembarques inesperados e que têm muitas semelhanças todos entre eles», disse a responsável na altura, salientando ainda assim que não há dados para se perceber se se trata de «uma rota ou de uma rede».

Mas o certo é que fontes ligadas à investigação admitem já a hipótese de haver uma rede a lucrar com estes fluxos – ainda que a realidade seja muito diferente da dos milhares de desembarques em Itália, Grécia ou Espanha, acredita-se que os migrantes paguem 500 euros para poderem fazer a travessia entre Al Jadida e o Sul de Portugal. 

Governo atento e em contacto com outros países

Desde o terceiro desembarque, em fevereiro deste ano, que se ficou a saber que o Governo está atento a esta realidade. Na altura, ainda com menos dados para avaliar se se tratava de algo organizado, o ministro da Administração interna, Eduardo Cabrita, também fez saber que era «prematuro» falar numa nova rota de imigração por mar para o Algarve. Mas deixou claro que havia já trabalho que estava a ser feito: «[Estamos] em diálogo com autoridades espanholas e marroquinas».

Em junho, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, pronunciou-se sobre o assunto, reforçando ser cedo para falar numa rota e anunciando a necessidade de criar acordos bilaterais.
«Julgo que ainda não se pode falar de uma rota. Temos registo […], nos últimos seis meses, de 46 pessoas, por aí, que aportaram ao Algarve em pequenas embarcações inseguras, e portanto isso não é uma dimensão que nos deva fazer falar de rotas», disse na altura à margem de uma cerimónia comemorativa dos 35 anos da assinatura do tratado de adesão de Portugal à União Europeia (UE), salientando que «o meio mais poderoso de combater redes de tráficos e máfias» é a criação de «acordos de migração laboral». 

Atualmente o número de migrantes que chegou a Portugal desde o desembarque de dezembro é de 69.
O ministro dos Negócios Estrangeiros anunciou ainda que Portugal estava já a negociar um acordo com Marrocos: «Já propusemos a Marrocos um texto de acordo de migração laboral, que Marrocos está a analisar».