Muito aconteceu na Bielorrússia na última semana. Depois de Alexander Lukashenko, no poder desde 1994, ter vencido as eleições presidenciais pela sexta vez consecutiva, com 80,23% dos votos, a candidata da oposição, Svetlana Tikhanovskaia, anunciou, no dia seguinte a conhecerem-se os resultados, que ia abandonar o país e refugiar-se na Lituânia.
«Tomei a decisão sozinha […] e sei que muitos me condenam, muitos me compreendem, muitos me odeiam», disse Tikhanovskaia num vídeo publicado na Tut.by. «Penso que esta campanha me endureceu e deu-me toda a força para conseguir suportá-la. Mas continuo a ser uma mulher frágil, tal como no início».
«As crianças, os filhos, são o que há de mais importante na vida», acrescentou ainda a candidata que, por razões de segurança, enviou os dois filhos para o estrangeiro, temendo pressões do poder.
Svetlana Tikhanovskaia é uma antiga professora de Inglês que, depois de o marido, o blogger Sergei Tikhanouski, ter sido preso, se candidatou à Presidência. Sem experiência política prévia, conseguiu o apoio de dezenas de milhares de bielorrussos. O historiador David Marples, especialista em história e política bielorrussa, disse ao i que acredita que esta «folha em branco» que a candidata apresentou foi essencial para conseguir apoio tanto dos populares como das elites.
«Ela é carismática e foi capaz de unir forças bastante díspares que, no passado, sempre estiveram divididas. Assim, ela era aceitável para as elites, para os trabalhadores e para as gerações jovens – especialmente as educadas – e mais velhas», explicou o especialista. «[Este fenómeno] não teria acontecido com qualquer pessoa. Os candidatos anteriores foram incapazes de fazer o que ela fez, porque representavam interesses específicos, partidos políticos ou pessoas que ocupavam cargos na elite e entraram em conflito com o Presidente». Por isso, Marples vê mesmo Tikhanovskaia como «uma mensageira da mudança».
Dois manifestantes mortos
Desde o anúncio do resultado das eleições que se têm registado inúmeros e violentos protestos na Bielorrúsia. Os manifestantes consideram a reeleição do Presidente Lukachenko fraudulenta.
Até ao momento, dois manifestantes morreram em confrontos com a polícia e pelo menos 6700 pessoas foram detidas pelas autoridades.
Svetlana Tikhanovskaia apelou, através de um vídeo, à organização, este fim de semana, de manifestações para denunciar a repressão do regime: «Peço a todos os autarcas para organizarem nos dias 15 e 16 de agosto concentrações maciças pacíficas em cada uma das cidades da Bielorrússia».