S e perguntarmos a alguém se acha que é bonito bater, muito provavelmente responderá que não. Se perguntarmos se uma criança deve bater noutra, a resposta será igual. Se é bonito bater nos mais novos, então aí a resposta negativa será certa. No entanto, se perguntarmos se acha que os pais devem dar uma palmadinha na altura certa ao filho, muitos responderão que sim. Curioso, não é?
Educar uma criança pode ser um trabalho hercúleo. Ao longo do seu crescimento, estes pequenos seres passam por fases em que desafiam os mais velhos, em que fazem asneiras, respondem torto, são mal educados e teimosos. São capazes de levar o ser mais calmo à loucura. Ninguém quer ter um filho mal educado, nem desobediente, ninguém quer não ter controle num bocadinho de gente de três anos, por exemplo, e muitas vezes a sua irrequietude e teimosia – naturais e necessárias ao crescimento, diga-se – deixa os pais fora de si.
Ainda no outro dia no supermercado assisti a uma mãe que deu uma boa dezena de palmadas à filha de quatro anos num curtíssimo espaço de tempo, simplesmente porque ela estava mais agitada e a mãe visivelmente nervosa e cansada.
Ainda ando a descobrir qual o melhor método para repreender uma criança quando faz uma asneira, mas de uma coisa tenho a certeza: não é com palmadas. Os pais servem para educar e para amar, uma criança saber que a mãe ou o pai que ela adora a pode magoar é desconcertante. Tenho as minhas dúvidas que deixe de repetir o comportamento por apanhar uma palmada, mas tenho a certeza que verá os pais com outros olhos. E à medida que vão crescendo, estarem sujeitos a uma atitude destas é, além de tudo, absolutamente humilhante.
Bater numa criança pequena e indefesa, por mais insuportável que ela às vezes possa estar, só me lembra cobardia, abuso de poder, desrespeito e desespero.
Como ensinar a uma criança que não deve bater aos colegas ou aos irmãos, se cresce a aprender que até os adultos, que supostamente são o modelo a seguir, pessoas ponderadas, que fazem as coisas certas, volta e meia lhe pespegam uma bela palmada? E como explicar que os pais podem bater mas elas não? Ainda que tenham mais força e elas sejam tão miudinhas e por vezes tão indefesas. Que educação é esta?… E como encarar um filho no momento a seguir? Como é a relação entre ambos quando existe esta variável em que, de volta e meia, quando os pais se zangam, levantam a mão e cá vai disto?
Sobretudo para algumas pessoas da velha guarda, e da nova também, uma palmada no momento certo não faz mal a ninguém, não traumatiza e é remédio santo para impedir certos comportamentos que consideram inaceitáveis.
Parece-me mais uma necessidade de aliviar a frustração e irritação, que muitas vezes não tem a ver só com aquele acontecimento em particular.
Não acredito em palmadas educativas. Acredito em desespero, em não arranjar uma solução melhor. Em precipitação, que ensina também às crianças que as coisas se resolvem no imediato, sem ponderação, sem palavra e com agressividade. Nada disto está correto. Para todas as idades. Das crianças mais pequenas aos adolescentes. Com certeza nenhum adulto acharia sensato um rapaz de 15 anos dar uma palmada a uma menina de dois. Mas se for ele próprio a bater na sua criança já é um ato de elevada sensatez?