A infância é um país estrangeiro do qual ninguém se liberta inteiramente. Mas há medida que os anos passam, as pontes vão ficando derruídas, desfeitas até com cargas de explosivos de cada vez que ouvimos frases como: “Não sejas infantil.” Quando um dia nos apetece voltar, já nem conhecemos os caminhos, e até a língua que lá se fala se tornou estranha para nós. Mas se há uma marca que foi sabendo lançar pontes entre a infância e a idade adulta, na medida em que produz a argamassa da imaginação, essa marca é a dinamarquesa Lego. Agora, a fabricante de brinquedos anunciou que irá lançar peças em braille de modo a ajudar as crianças com deficiências visuais, as quais deverão chegar a Portugal no início do próximo ano.
As peças que foram consideradas o “objecto do século XX”, remontam a 1947, e este império que deu à infância capacidade de reproduzir e projectar o mundo, bem como de introduzir nele elementos de fantasia, partiu do engenho de um carpinteiro dinamarquês, Ole Kirk Christiansen, que um dia teve o rasgo de perceber que se uma odisseia começa com um só passo, também a torre mais alta que se possa conceber pode começar por algo tão simples como um tijolo. Criou um de plástico, com encaixes, de modo a que cada peça pudesse ser uma como uma gota de água, e estar em qualquer ponto desse dilúvio de criatividade que antecipou. Agora, mais de sete décadas depois, a Lego dá outro passo num território onde os seus tijolos perdem as cores mas podem ajudar a criar uma ligação primordial ao mundo para crianças com deficiência visual. Este projecto nasce de uma parceria da Lego com organizações locais, num esforço para ajudar os mais novos “a aprender pensamento crítico, a resolução de problemas e a colaboração”, explica a marca em comunicado.
O lançamento oficial da Lego Braille Bricks vai arrancar em sete países, incluindo Alemanha, Brasil, Dinamarca, Estados Unidos, França, Noruega e Reino Unido. “O programa foi revelado pela primeira vez como um projeto-piloto em abril de 2019 na Conferência de Marcas Sustentáveis em Paris, França, lar do inventor do braille, Louis Braille”, destaca a Lego. De acordo com o comunicado, o conceito por trás das peças em braille foi primeiro proposto à Lego Foundation em 2011 pela associação dinamarquesa de cegos e, em 2017, por uma associação similar brasileira. “Desde então foi sendo moldada numa estreita colaboração com as comunidades de cegos na Dinamarca, Brasil, Reino Unido, Noruega, Alemanha, França e Estados Unidos, onde os testes foram conduzidos em duas ondas durante quase dois anos”, adianta a marca. Quatro línguas adicionais vão ainda ser lançadas nos próximos seis meses, “com a ambição de que o conceito seja implementado num total de 11 línguas ao longo de 20 países no início de 2021”, acrescenta o comunicado.
“A primeira onda da Lego Braille Bricks está a ser lançada nesses países” e entrará “em 13 países adicionais no início de 2021, incluindo Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Espanha, Finlândia, Holanda, Irlanda, Itália, Nova Zelândia, Portugal e Suíça”, aponta.