Depois de ter sido determinado na passada sexta-feira que o Governo Bolsonaro devia criar uma nova versão de um plano para proteger as comunidades indígenas face à pandemia de covid-19, Bolsonaro anunciou acordos com organizações e associações não governamentais para apoiar não só os indígenas, mas também a comunidade LGBT.
Segundo a revista brasileira Veja, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos foi o responsável por atribuir os diversos apoios financeiros, nomeadamente ao Coletivo Margarida Alves de Assessoria Popular, que vai receber um apoio de 200 mil reais (cerca de 30 mil euros), com o objetivo de “promover formação e fortalecimento identitário de 13 comunidades quilombolas da Rede Quilombola da Região Metropolitana de Belo Horizonte”. Quilombolas são os habitantes de quilombos, termo que, no período da escravatura, se referia a pequenas povoações constituídas por escravos africanos e afrodescendentes que fugiam, por exemplo, dos engenhos de cana-de-açúcar.
De recordar que, quando ainda era candidato à Presidência, Bolsonaro lançou ataques e insultos a esta comunidade.
“Eu fui a um quilombo. O afrodescendente mais leve pesava sete arrobas (105 kg). Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve. Mais de um bilhão de reais por ano é gasto com eles”, cita a Veja. “Pode ter certeza que, se eu chegar lá [à Presidência], não vai ter dinheiro para ONG (…). Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola”.
Este ministério atribuiu também 100 mil reais (cerca de 15 mil euros) ao Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô de forma a promover a “igualdade racial da população afrodescendente, indígena e cigana na serra da Barriga, em União dos Palmares, Alagoas”.
Já o Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional, do Ministério do Turismo, atribuiu 110 mil reais (cerca de 16 500 euros) ao Polis Instituto. “O objetivo final, para além de proteger e valorizar os territórios culturais LGBTQI+ com bens imateriais, é avançar na reflexão e construção de espaços seguros e acolhedores para todas as pessoas, especialmente aquelas discriminadas por seus marcadores sociais, como raça, género e sexualidade”.
Segundo a notícia, estes apoios financeiros não devem ficar por aqui e, depois de reuniões com os ministérios da Justiça, Agricultura, Cidadania, Mulher, Infraestrutura, Saúde e Educação, estão a ser estudadas novas propostas e associações para atribuir apoios financeiros. No entanto, Benedito Jorge, coordenador do Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô, chama a atenção para o que estes apoios podem significar por parte do Governo de Bolsonaro. “O Presidente Bolsonaro está a tentar aproximar-se das ONG, a tentar aproximar-se de uma forma subtil dos movimentos sociais. Eu não sei se é por causa das eleições municipais e das majoritárias que virão, ou se ele quer apagar a imagem negativa que ele tem diante da população”.