Os surtos nas instituições residenciais para pessoas idosas tendem a não desaparecer e, para resolver este problema, a tendência tem sido chamar os profissionais de saúde do setor público, que estão nos centros de saúde. Aconteceu, por exemplo, no lar em Reguengos de Monsaraz, ou no lar do Barreiro. A maioria das instituições não contrata médicos, nem enfermeiros – não é obrigada a tal – e, quando é detetado um caso positivo, são chamados os profissionais do Sistema Nacional de Saúde. E os médicos acusam agora o Governo de desviar recursos, atrasar consultas e diagnósticos.
Em abril, foi publicado um despacho que determina que "o seguimento clínico dos doentes covid-19 que habitem em estabelecimento residencial para pessoas idosas e cuja situação clínica não exija internamento hospitalar é acompanhado, diariamente, por profissionais de saúde do ACES da respetiva área de intervenção, em articulação com o hospital da área de referência".
No entanto, os médicos entendem que deve existir uma clarificação do entendimento da lei, uma vez que o Contrato Coletivo de Trabalho prevê um local de trabalho – que neste caso é o centro de saúde e não um lar. "Os médicos têm o seu local de trabalho que é o centro de saúde, e o centro de saúde não é um lar", avançou Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), acrescentando que "os médicos não podem ser mandados para outro hospital, não podem ser mandados para outro centro de saúde fora do concelho, não podem ser mandados trabalhar para um clube de futebol". O SIM acusa o Ministério tutelado por Marta Temido de falta de diálogo com os profissionais de saúde, tendo o Ministério da Saúde, "em vez de falar com os médicos, feito um despacho que pretende alterar uma coisa que é a contratação coletiva, que é uma conquista de Abril".
No caso do lar do Barreiro, os médicos dizem que esta foi uma situação flagrante, uma vez que a instituição tem um médico, mas este estava de férias quando foi identificado o surto. "Quem autoriza as férias é a entidade patronal. Eu não tive férias até julho porque o patrão, Estado, disse para não ir", explicou Jorge Roque da Cunha. "Ao ter esta atitude, o Governo vai ser responsável por um aumento da mortalidade, pela diminuição da identificação de cancros e por uma maior número de AVC’s, porque há menos controlo", acrescentou o Sindicato Independente dos Médicos.
As críticas multiplicam-se entre os médicos e a Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar defendeu também esta semana ser necessária uma clarificação da lei. Em resposta, o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, sublinhou esta quinta-feira que os médicos dos centros de saúde vão continuar a prestar cuidados nos lares sempre que for necessário. "Nós temos um despacho que é determinante, o Despacho 49/59 de Abril, que define as linhas de assistência aos utentes de estruturas residências para idosos, que não tenham necessidade de internamento, por parte dos médicos dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES)".
Esta sexta-feira, a ministra da Segurança Social, Ana Mendes Godinho, avançou ao Eco que serão criadas 18 brigadas de intervenção rápida para reforçar os recursos humanos dos lares. Em causa está a criação de várias equipas compostas por médicos, enfermeiros e auxiliares que serão geridas pela Cruz Vermelha Portuguesa, sob a tutela da Segurança Social.
Casos positivos voltam a aumentar para níveis de julho
O boletim epidemiológico divulgado ontem registou 401 novos casos de infeção – um novo aumento que tem sido tendência nos últimos dias. É preciso recuar até 10 de julho para encontrar um número de novas infeções tão elevado. E registou-se mais um agravamento: O número de internados aumentou. Esta sexta-feira estavam mais 17 pessoas internadas face ao dia anterior, totalizando 334 internados. Nas unidades de cuidados intensivos estão 38 pessoas.
Estes números acompanham a tendência crescente que se tem verificado na Europa nos últimos dias – Espanha, França, Itália, Alemanha e Reino Unido, por exemplo, têm registado todos os dias centenas de casos. Espanha registou esta sexta-feira perto de dez mil novos casos de infeção.
Aplicação Stayaway covid já está disponível
Quem usar o sistema operativo Android já pode descarregar a aplicação de rastreio Stayaway Covid. A aplicação foi desenvolvida pelo INESC TEC, em parceria com o Governo, e foi anunciada há cinco meses. A aplicação é gratuita e não é necessário inserir qualquer dado pessoal ou contacto. Para os restante sistemas operativos, a aplicação deverá chegar na próxima semana.