Surpreendendo tudo e todos, os Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC, em inglês) dos Estados Unidos avisou os governadores para se prepararem para distribuir uma vacina contra a covid-19 a partir de 1 de novembro, avançou ontem a Associated Press. A data antecede em muito as expetativas quanto à velocidade testes clínicos de uma vacina, necessários para garantir a sua segurança. Contudo, bate certo com os receios de que a Casa Branca esteja a apressar a aprovação de uma vacina antes das eleições presidenciais de 3 de novembro.
“O cenário de uma vacina está a evoluir e é incerto”, explicou Robert Redfield, diretor do CDC, numa carta dirigida aos governadores, datada de 27 de agosto. O seu pedido era que as autoridades locais abdicassem de alguns dos seus requisitos, normas e restrições, caso impedissem uma distribuição mais rápida da vacina.
Redfield acrescentou que uma potencial vacina poderia ser aprovada por um decreto de emergência, em vez de passar pela FDA, a agência encarregue do controlo a qualidade dos medicamentos nos EUA. A expectativa é que, até a meio de 2021, o suprimento de vacina seja insuficiente para imunizar toda a população, ficando os estados encarregues de identificar os grupos prioritários.
Recorde que a aprovação de uma vacina é um processo muito mais difícil e demorado que para outros medicamento. Afinal, as vacina são administrada a milhões e milhões de pessoas saudáveis. Um efeito secundário grave, mesmo que relativamente raro, pode ter enormes consequências.
Como tal, os ensaios clínicos são graduais, vão de testes em animais, para testes em dezenas de pessoas, até à fase 2, onde há centenas de participantes, e finalmente à fase 3, onde a vacina é administrada a dezenas de milhares de voluntários.
No que toca às vacinas norte-americanas, das farmacêuticas Moderna e da Pfizer, nem sequer recrutaram todos os voluntários necessários. E estão, no melhor dos cenários, a meio da fase 3, avisam os especialistas.
No que toca ao aviso do CDC aos estados, pode tratar-se de uma questão de estar preparado para todos os cenários. Ou então não. “Estar pronto é razoável. Acabar mais cedo os ensaios da fase 3 antes de termos a informação toda de que precisamos não”, avisou Paul Offit, um especialista em imunização do Children’s Hospital of Philadelphia, que faz parte do conselho para vacinas da FDA, em declarações à AP.
Acontecendo uma aprovação antecipada de uma vacina, não seria um caso único. Por exemplo, Vladimir Putin pode gabar-se que a Rússia foi o primeiro país a aprovar uma vacina, do instituto estatal Gamaleya, apesar desta apenas ter sido testada em 76 pessoas, nem sequer tendo entrado na fase 3. O exemplo russo foi seguido pela China, pouco tempo depois
Contudo, observando o caso russo, uma eventual distribuição antecipada de vacina nos EUA pode ser mais fogo-de-artifício que um perigo de saúde pública. De facto, foi aprovado o uso da vacina da Gamaleya para grupos prioritários, como idosos e profissionais de saúde, mas apenas apenas após 1 de janeiro, quando presumivelmente após haver alguns resultados da fase 3.