Após mais de cinco ou seis meses em casa, as crianças regressam às escolas. Muitas já nem se lembram do que isso é, outras não se querem lembrar e outras ainda não pensam noutra coisa, tal é a ânsia de reencontrarem os amigos.
Não podemos considerar razoável a entrada de uma criança nova ou pequenina na escola sem o apoio de alguém que a faça sentir-se segura e que possa ajudar à transição. A proibição da entrada dos pais na escola é de uma enorme violência e irracionalidade. Todos sabemos como é importante o apoio dos pais para garantir a segurança na entrada de um espaço novo e de como às vezes os mais novos precisam de tempo para mais um abraço, para ficarem mais um bocadinho, sobretudo nos primeiros dias. É injustificável que isto lhes seja negado. Já para não dizer que imagino a fila e tempo de espera à porta da escola para depois as crianças terem de ser despachadas em segundos porque a fila continua atrás de si. Se é permitido o amontoado de pessoas em transportes públicos, se se realizam festas de partidos e concertos, como se pode justificar uma atrocidade destas?
Da mesma forma não pode ser negado colo nem beijinhos por parte dos educadores aos mais novos. É neste amor e troca que as crianças se desenvolvem. Ainda mais depois deste longo interregno, em que tiveram os pais tão próximos e presentes, em que a distância poderá ser tão penosa, e nestas condições estranhas, terá de haver alguém que garanta o seu conforto e segurança.
Assim como as crianças devem brincar umas com as outras, sem distâncias ou constrangimentos, dentro do seu grupo.
Não podemos começar a ver vírus em vez de pessoas e passar às crianças a ideia de que os outros são uma potencial doença em vez de alguém com quem gostamos de estar. Que os beijinhos e o contacto são maus em vez de serem essenciais. De nos afastarmos quando um amigo se aproxima para nos abraçar. Passar a ideia de que devemos ter medo uns dos outros é absolutamente errado e prejudicial.
Temos de pensar se as escolas têm condições para receber as nossas crianças de forma saudável, com afeto, proximidade, ou se vamos ter crianças a serem separadas à força dos pais à porta da escola, para serem levadas com demasiada segurança para uma sala onde todos estão separados.
A ausência de toque e a distância podem ser cumpridas pelos familiares em relação a pessoas de fora do seu círculo – acho que podemos viver com isso durante uns tempos – mas não vamos permitir que isto comece a fazer parte da formação dos nossos filhos. Não podemos incluir as crianças no meio desta loucura.