Nos finais do mês de Julho, na sequência do encerramento do consulado chinês em Houston, Texas, e de vários incidentes securitários com visitantes chineses aos Estados Unidos, o senador Marco Rubio, um dos aspirantes republicanos à nomeação presidencial em 2016, afastado por Donald Trump nas primárias republicanas e actual presidente da Comissão de Inteligência do Senado, declarou:
“O Consulado da China em Houston não é uma secção diplomática. É o nó central da vasta rede de espiões e operações de influência do Partido Comunista chinês nos Estados Unidos”. Esta pouco diplomática afirmação do Senador pela Florida, reflecte um estado de espírito crescente nos Estados Unidos, sobre o “perigo chinês”, um estado de espírito que talvez seja o único ponto importante de convergência entre Republicanos e Democrata. Um aspecto curioso desta concordância é o facto de ambos os candidatos – Trump e Biden – acusarem os chineses de interferência para favorecer o seu adversário.
As acusações de interferência estrangeira tinham sido formuladas, em força, pela primeira vez, em 2016, depois da vitória inesperada de Trump: os russos, que não queriam Hilary Clinton, teriam influenciado, por meios informáticos e de propaganda cinzenta, o eleitorado a favor do candidato republicano. As investigações de várias agências e do FBI não encontraram nenhuma prova de conluio ou trade-off entre Moscovo e Trump, mas as insinuações persistiram com histórias delirantes de chantagem sobre o Presidente através de imagens obtidas em viagens suas à Rússia.
Nada disso alguma vez apareceu e nada no comportamento de Trump em relação à Rússia, leva a pensar que pudesse estar sob qualquer pressão da União Soviética. Teve, sim, uma relação realista com Putin, abstendo-se de cruzadas internacionalistas anti-russas, ao que Putin respondeu na mesma moeda.
Comparando as possibilidades e capacidades tecnológicas de russos e chineses, Hans von Spakowsky, um especialista do Brains Trust conservador Heritage Foundation, considera que a China representa potencialmente, uma muito maior ameaça que a Rússia, já que tem maiores e mais sofisticados meios de acção, quer no exterior, quer no interior dos Estados Unidos. Isto porque tem uma vastíssima rede de negócios e presença empresarial na América. Para von Spakowsky, não está tão em causa ou questão, alterar votos, mas perturbar o processo de modo a criar suspeição sobre a sua idoneidade. Isso aumenta por exemplo no voto por correspondência, ou mesmo por E-Mail.
Um alvo favorito dos hackers chineses têm sido instituições académicas dos Estados Unidos, do Canadá e do Sueste Asiático, envolvidas na pesquisa de novas tecnologias militares sobretudo as ligadas à Marinha de Guerra. Já em 2018, o Wall Street Journal mencionava um grupo de hackers chineses – Temp – Periscope – que se ocupava da penetração em empresas com contratos com a Marinha, que tinham sido objecto de cyberataques.
Segundo um relatório classificado apresentado nos finais de Julho à Comissão de Inteligência do Senado, pelo Director do FBI, Christopher Wray, acompanhado pelo director do National Counterintelligence and Security Center, a China tem um largo elenco de meios, para interferir na eleição americana, em termos de cyberataques, desinformação e pressão sobre personalidades políticas. Embora haja menção de possibilidades e intentos de interferência russa e iraniana, a China é considerada a ameaça principal.
Isto ficou bem expresso, num discurso do Secretário de Estado Mike Pompeo, um dos “falcões” da Administração Trump, na Richard Nixon Presidential Library, na Califórnia, que, sublinhando o papel de Nixon e Kissinger na abertura à China há cinquenta anos, nos anos setenta do século passado, e as esperanças então depositadas na entrada do gigante asiático na comunidade mundial, sublinhou que se tinham gorado as esperanças na evolução da RPC para a liberdade e a democracia, Pompeo usou uma linguagem dura, acusando os dirigentes chineses que, depois de terem graças aos Estados Unidos e “outras nações livres” levantado a sua economia decadente, estarem agora “a morder as mãos que os alimentaram”. Referiu depois a auto-censura das empresas norte-americanas como a DELTA Airlines e American Airlines, e até de Hollywood para não ofender a China.
Mas para Pompeo tal não foi suficiente para mudar a China que é hoje um regime totalitário, governado por um partido marxista-leninista, que domina e manipula as companhias chinesas no estrangeiro para os seus fins.
Um claro desafio e declaração de “guerra fria”.
por A.P.G