Não deve haver ninguém que não tenha já visto nas passagens de nível ou em apeadeiros o sinal de alerta «Pare, Escute e Olhe». E o seu desrespeito já custou muitas vidas…
Contudo, se a mensagem for «Pare, Escute e Ria», só alguns entenderão onde se quer chegar. Refiro-me precisamente àqueles que já assistiram à magnífica revista do Teatro Maria Vitória – cujos autores aproveitaram aquele aviso para dar o nome ao espetáculo, agora remodelado, reposto em exibição.
A peça é de grande qualidade, muito equilibrada e divertida, que nos distrai – e que, obviamente, recomendo.
O empresário Hélder Freire Costa – um resistente e incansável lutador – vai aguentando conforme pode o fardo pesadíssimo de continuar a mostrar aos portugueses que o teatro de Revista ainda sobrevive em Portugal. E o esforço é imensamente de louvar, pois trata-se de um importante património cultural do país.
Flávio Gil, Miguel Dias e Renato Pinto – um trio de luxo, criador do espetáculo – oferecem-nos de novo rábulas com humor característico, deixando nas entrelinhas recados convidando à reflexão.
Do elenco habitual, destacam-se os regressos da experiente Paula Sá a uma casa que bem conhece (e onde está como ‘peixe na água’) e do veterano Paulo Vasco, afastado à última hora do espetáculo anterior por motivos de saúde, saudando-se agora a sua presença, por ser também um homem da casa.
Deixando para trás o espetáculo, e centrando agora a atenção na frase que lhe dá o nome, concluo que ela se pode estender a outras áreas, incluindo à medicina, pelas recomendações feitas aos doentes – em especial aos que andam confusos, desnorteados e à procura de qualquer coisa, sem saberem bem o quê…
Hoje os tempos são diferentes do ‘antigamente’, como é natural.
O acesso à informação é mais fácil e está agora ao alcance de qualquer um, o que não significa que as pessoas estejam mais esclarecidas, antes pelo contrário.
Já aqui tenho dito que o acesso à informação por pessoas que não estão preparadas para a receber traduz-se, na prática, por uma desinformação. Depois vem a confusão, o desespero, o correr de um lado para o outro à procura da resposta que queremos encontrar através de uma segunda ou terceira opinião, ‘regra’ essa a que já nos habituámos e que nós, médicos, temos de ser os primeiros a compreender.
Sendo assim, é ou não verdade que, na vida, é preciso primeiro ‘parar’ nesta correria desenfreada em que andamos para ‘escutar’ e dar ouvidos apenas a quem nos pode ajudar?
É ou não verdade que é preciso fazer silêncio para poder ouvir aquilo que realmente é essencial – e não irmos atrás dos que nos querem impor ‘certezas’, em função de interesses ou de conveniências?
É ou não verdade que a ‘voz amiga’, na hora e no momento certos, pode valer mais do que alguns tratamentos farmacológicos?
Por último, ‘Rir’. Rir é fundamental na vida do ser humano e pode ajudar a ultrapassar muitos problemas. Quando olho para um doente que me aparece com um semblante carregado, pergunto-lhe logo: «Mas que cara é essa?». E digo para mim: ‘Tenho de ser capaz de modificar esta postura’. A beleza da Medicina é esta: transformar desencantos, fracassos e outros males do passado em vidas novas, onde a esperança e a alegria de viver sejam a força de cada dia.
Talvez por tudo o que acabei de referir eu tenha dado outro valor ao espetáculo teatral. Parar, escutar e rir é tarefa que se pode e deve aplicar a cada um de nós. Como médico, reconheço como isso é importante e faz parte da estratégia terapêutica.
Para os leitores, fica aqui o convite: vão ao teatro. Àqueles que me fizeram reviver o humor, o encanto e a magia da Revista à Portuguesa, deixo o meu abraço.
No fundo, somos todos um pouco Maria Vitória!