“Todos os dias há notícias sobre os mortos causados pela covid-19, mas alguém sabe quantos portugueses morrem diariamente com doenças cardiológicas?” O alerta foi feito ontem pelo presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, Manuel Carrageta, em declarações à TSF. O responsável lembrou que as doenças cardiovasculares vitimam diariamente cerca de cem pessoas em Portugal. São a principal causa de morte no país. Os últimos dados fechados são de 2018, ano em que as doenças cardiovasculares vitimaram 32 731 portugueses, 89 mortes a cada dia.
Manuel Carrageta chamou a atenção para o aumento da mortalidade desde o início do ano, admitindo que o adiamento de cuidados de saúde pode levar a um retrocesso nesta área. De acordo com o último balanço do Instituto Nacional de Estatística, de março até ao final de agosto registaram-se mais 5882 mortes do que no mesmo período de 2019, das quais 5162 mortes acima dos 75 anos. As causas ainda não foram codificadas pela Direção-Geral da Saúde, um processo que costuma só ser feito no ano seguinte e que a DGS garantiu já que será antecipado. “Não sabemos ao certo porque estão a morrer mais pessoas, mas sabemos que houve uma redução enorme nas idas às consultas e urgências dos hospitais”, afirmou Carrageta, alertando que os doentes estão a chegar mais descompensados e que há hospitais onde a atividade ainda não foi retomada a 100%. “Se existiu, nos últimos anos, um aumento da esperança de vida em Portugal e noutros países, isso deve-se ao sucesso dos tratamentos cardiovasculares (…) Este sucesso está a recuar devido a este problema da covid-19, que se compreende com o medo de ir ao médico e com o domínio completo da comunicação nos média, mas não nos podemos esquecer que as doenças cardiovasculares matam cem pessoas por dia”.