“É provavelmente um dos maiores fogos da Europa este ano”

Fogo de Proença-a-Nova alastrou a Oleiros e Castelo Branco. Já há mais de 16 mil hectares de área ardida.

Os novos passadiços de Oleiros permanecem intactos – estão a cerca de nove quilómetros de distância –, mas o incêndio ainda ativo que deflagrou no domingo à tarde em Proença-a-Nova e alastrou aos concelhos de Oleiros e Castelo Branco – mobilizando mais de mil operacionais – já é considerado “um dos maiores da Península Ibérica” este ano e, “provavelmente, um dos maiores fogos da Europa”. Quem o diz é Emanuel Oliveira, consultor na área de risco de incêndios florestais, que ao i fala em cerca de 16 mil hectares já ardidos só neste fogo – a Câmara Municipal de Oleiros também já havia estimado uma área ardida de cerca de 20 mil hectares no maior incêndio a atingir o concelho desde 2003, com 60 quilómetros de perímetro.

“São paisagens muito homogéneas que vão alimentar um fogo também homogéneo. O problema está aí. A_particularidade deste incêndio é que começou na zona sul. O habitual é os incêndios começarem de noroeste para sudeste. E este foi de sul para norte. Todo o combate foi dificultado devido a isso. Os combatentes têm experiência e um histórico mas, desta vez, houve essa dificuldade”, começou por dizer, revelando que as “primeiras horas” muito ventosas também complicaram o trabalho no terreno.

“As primeiras horas contaram com meteorologia adversa e isso complicou muito a tarefa do combate. Existiu também um alinhamento entre o vento e as ravinas. O vento entrou e canalizou precisamente nessas ravinas. E isso também complicou e manteve-se durante horas”, confessou. O investigador Domingos Xavier Viegas acrescenta:_“O ataque inicial não correu bem e depois as coisas complicaram-se. Este verão tem sido muito quente, com temperaturas acima da média. E este incêndio está numa zona muito complexa”.

De acordo com a Proteção Civil, cerca de 90% do incêndio já se encontrava dominado até à hora de fecho desta edição, mas ainda se mantinham no terreno mais de 900 operacionais, auxiliados por 14 meios aéreos.

“As nossas preocupações neste momento são estes 10% que nós temos ainda ativos, na zona norte do incêndio, quase na confluência dos concelhos de Oleiros e Pampilhosa da Serra. Este território em tudo beneficia o fogo e em tudo dificulta as operações de combate. É extremamente complexo do ponto de vista da orografia e, depois, também da carga e do combustível que existe”, explicou ontem, em conferência de imprensa, o comandante das operações de socorro, Pedro Nunes, que adiantou também que, até à data, há registo de dez feridos, incluindo cinco bombeiros de Proença-a-Nova – dois deles em estado grave.

 

Zona fustigada e sem prevenção

Dado que esta zona tem sido muito castigada pelos incêndios nos últimos anos, há que também ter isso em atenção. Em Oleiros houve fogos em 2018 e também durante o ano passado. E em Pedrógão Grande, distrito de Leiria, é impossível esquecer a tragédia que tirou a vida a 66 pessoas, em 2017.

“É tudo praticamente na mesma região. Devíamos ter agilidade para fazer uma série de intervenções que fazem falta. É preciso mais. O que mudou desde 2017?_Muito pouco. Enquanto não houver um plano de ação, estamos num vazio. A partir de 2018 deixou de vigorar o Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios. E agora estamos sem rumo”, reforçou Emanuel Oliveira, lembrando que continua ainda à espera do “famoso” Plano Nacional de Gestão Integrada dos Fogos Rurais.

“Realmente tem havido um esforço do Governo para dotar as instituições públicas, mas não se nota. As entidades envolvidas no combate ou na prevenção andam como se estivessem sem carta. Desde 2017 que vão fazendo o que podem. Mas estão a trabalhar numa microescala. Aquela desejável gestão para mudar alguma coisa não foi feita. Não foi feita porque não existe um plano ou um guia”, esclareceu.

Este ano, recorde-se, em finais de julho, o concelho de Oleiros também já havia sido palco de um dos maiores incêndios do ano, com 5590 hectares de área ardida.