por Filipa Moreira da Cruz
O verão ainda não terminou e já nos preparamos para a segunda vaga (inevitável?) do vírus. Entretanto, faz-se o balanço de meses de quarentena, de um regresso à normalidade possível, de uma economia asfixiada. Contam-se diariamente os casos confirmados, os utentes internados, os que recuperaram e os que não sobreviveram. As consequências desta maldita covid-19 vão resistir ao tempo e deixarão marcas, muitas vezes, irreparáveis. Nunca desejamos tanto que um ano terminasse tão depressa!
Consequências fisiológicas
Aqui em casa estivemos os quatro doentes e os sintomas persistem. O meu filho ainda não recuperou completamente o olfato nem o paladar. Come pouco e sem vontade, o que não ajuda a recuperar os quilos perdidos. Cansa-se frequentemente e não consegue suportar a máscara muito tempo. Sente falta de ar. O facto de ser asmático não ajuda. Eu passei a sofrer de enxaquecas e de fadiga. O meu marido tem erupções cutâneas, a cara inchada e eczema difícil de tratar. Só a minha filha parece ter escapado às sequelas do vírus.
Consequências sociais
De um dia para o outro deixamos de poder beijar e abraçar familiares e amigos. O distanciamento imposto abalou as já frágeis relações inter-humanas numa sociedade dependente das redes sociais. Impediu os avós de estarem com os netos, impossibilitou as idas ao cinema e ao teatro, proibiu os concertos e os jogos de futebol com o público ao rubro. Se ainda restavam dúvidas temos agora a certeza que sem internet quase ninguém vive. Mas os desafios do TikTok e os filmes da Netflix não substituem o contacto humano. Por outro lado, a cultura é vital para alimentar o espírito e dar de comer a todos os que dela dependem para viver.
Consequências políticas
São muitos os que não poupam críticas ferozes aos atuais governos dos mais diversos países no combate à pandemia. A falta de consenso e de união originou protestos e manifestações. Surgiram os movimentos ‘anti-máscaras’, os grupos radicais que recusam a vacina e ainda os que afirmam que tudo isto não passa de uma conspiração para exterminar a população. Ou até mesmo os que defendem tratar-se de uma guerra virológica premeditada. Os desafios são grandes e quase todos os governos tentam evitar um novo confinamento.
Consequências económicas
Sem dinheiro ninguém vive e o vírus veio acentuar as desigualdades já existentes. Quase todos os setores foram afetados, mas o mais sacrificado foi, sem dúvida, o turismo. As companhias aéreas despedem aos milhares e pedem ajuda ao Estado para assegurar a sua continuidade. Um pouco por todo o mundo, hotéis e restaurantes fecham as portas. Para sempre. No país onde vivo o layoff continua até dezembro. E depois? Tenho amigos que ainda não regressaram ao trabalho, outros que já foram dispensados. Aprendemos a viver com menos, mas a escola, o hospital, o supermercado e a farmácia são essenciais e os seus interlocutores são os novos heróis.
Os próximos anos não vão ser fáceis e a retoma vai ser lenta e dolorosa. Mais uma prova à nossa resiliência e capacidade de superação. Ainda assim, mantenho o otimismo. Espero que possamos aprender a lição. Será uma boa oportunidade para sermos mais solidários, altruístas e justos. Sei que o vírus não acontece só aos outros. Mas também sei que o ser humano é capaz do melhor. Basta querer.