“A tendência no Reino Unido está a ir na direção errada e estamos num ponto crítico da pandemia. Estamos a analisar os dados para ver como controlar a disseminação do vírus antes de um período de inverno muito complicado”, foi esta a análise do diretor geral de Saúde de Inglaterra, Chris Whitty, que ontem, juntamente com o assessor científico do governo britânico, Patrick Vallance, se dirigiram à população para fazer o ponto da situação pandémica do país.
Vallance avisou que o Reino Unido deve “agir rápido”, de forma a evitar um desastroso “crescimento exponencial” e previu que em outubro o país possa registar uma média de 50 mil casos por dia e cerca de 200 mortes por dia. “Coletivamente, temos que tomar [este problema] bastante a sério”, disse Vallance, numa altura em que o país registou, no último sábado, 4.422 novos casos, o número mais alto desde maio.
A imprensa britânica tem especulado sobre um potencial anúncio de novas medidas nos próximos dias pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
“Já existem medidas em vigor que devem desacelerar e garantir que não entremos nesse crescimento exponencial e acabemos com os problemas que se podem prever como consequência. Mas requer rapidez, requer ação e requer [medidas] suficientes para ser capaz de reduzir [os números]”, vincou.
Recompensas e castigos Hoje pubs e restaurantes no Reino Unido começaram a encerrar às 22h e, para evitar ajuntamentos, os britânicos estão proibidos de entrar em casas que não as suas.
Estas medidas juntam-se a todo um “pacote” que já tinha sido aplicado em todo o Reino Unido. A mais sonante foi a multa aplicada às pessoas que, caso testem positivo ou apresentem sintomas de coronavírus, não cumpram o auto-isolamento durante 14 dias. Estas poderão ser penalizadas entre 1.090 euros e 11 mil euros, no caso de reincidência.
No entanto, de forma a encorajar o cumprimento destas regras, as pessoas com rendimentos baixos poderão receber uma ajuda de 545 euros, caso não tenham a possibilidade de recorrer ao teletrabalho no período de quarentena.
Além disso, estão proibidos os ajuntamentos de mais de seis pessoas e foram impostas restrições adicionais em regiões do norte e centro de Inglaterra devido a surtos localizados.
Entretanto, escolas e locais de trabalho continuam abertos.
O Secretário de Estado de Saúde do Reino Unido, Matt Hancock, afirmou que poderão ser aplicadas ainda mais medidas. “Nós temos uma escolha”, disse, dirigindo-se aos britânicos. “Ou todos seguimos as regras, ou vamos ter de aplicar mais medidas. Estou a pedir a ajuda de todos os britânicos. Nós temos que fazer isto juntos”.
Segundo confinamento? Boris Johnson irá falar hoje à nação para explicar se serão adotadas novas medidas, ou não, numa altura em que o governo não descarta decretar um segundo confinamento nacional de duas semanas.
O presidente da Câmara de Londres disse que “não se pode descartar que, em algum momento da próxima semana, se volte a pedir aos cidadãos que trabalhem a partir de casa” e alertou que só cumprindo as regras se pode evitar um novo confinamento.
Boris Johnson, na semana passada, admitiu que o Reino Unido está “apenas algumas semanas atrasado em relação a alguns países europeus”. “Se observarmos o que se está a passar em França ou, particularmente, em Espanha, podemos ver que as coisas estão a piorar lá, inclusive, com o número de mortes. É importante que façamos tudo o que podemos para atenuar esta situação”, observou o primeiro-ministro.