Afinal, o que pensa realmente António Costa? Que um ministro se deve lembrar das suas funções até no café, como disse na altura da saída do Governo de João Soares, por ter ameaçado de bofetadas uns comentadores de jornais (embora com ele tenhamos a vantagem de saber o que pensa sempre); ou, como afirmou a propósito do seu apoio a Luís Filipe Vieira, nas eleições do Benfica, que pode fazer o que entender como cidadão, fora das suas funções políticas. Será que João Soares quereria dar bofetadas aos tais comentadores como cidadão, ou como governante?
Sabia-se, por ele (PR) ter tomado a iniciativa de o dizer, que Marcelo ia falar do assunto com Costa na 5ª-feira passada, e não devia ser nada manso, nem pensar como o primeiro-ministro agora declarou, porque participou nas actividades do seu Braga Clube quando era um simples civil, e deixou-as no momento em que passou a Presidente da República. O Expresso veio depois noticiar que a solução final fora imposta por Marcelo. Mas Vieira esvaziou realmente a hipótese da conversa directa com Costa sobre a matéria, ao tomar a decisão (segundo muitos, de maneira pouco apropriada para os políticos), de excluir das suas listas (Comissão de Honra, imagine-se) o primeiro-ministro e o presidente da Câmara de Lisboa. Que já sabiam ao que se sujeitavam, depois do sururu provocado pelo presidente da Câmara do Porto nas listas do Futebol Clube do Porto.
De qualquer modo, Vieira já tinha o que pretendia, e não precisava para nada de os incluir nas listas. Portugal inteiro, o que inclui o povo votante do Benfica, tem consciência do apoio do primeiro-ministro e do presidente da Câmara de Lisboa às listas de Vieira. Que não o meu, mais insignificante e livre, e que de qualquer modo prefiro outro candidato.
Vieira, portanto, ficou a ganhar com toda esta polémica. E Costa? Talvez menos. Para já, ficamos a saber como é volúvel no que pensa e despensa sobre tudo. E não me parece que saia bem da foto. A não ser no seu empenho de favorecer Vieira, num momento em que é atacado por todos os lados, e se esperaria que o primeiro-ministro não se pronunciasse antes dos tribunais.