São vários os países por todo o Velho Continente que estão a ver os casos de infeção por covid-19 a crescer a um ritmo alarmante, o que fez os governos reagir com medidas restritivas mais apertadas. E nem todos os cidadãos gostaram.
Em Espanha, que esta semana ultrapassou a barreira dos 700 mil infetados, as novas medidas geraram protestos e confrontos violentos com a polícia, na quinta-feira. O governo regional de Madrid, a capital europeia com mais casos de infeção, decidiu alargar a mais 167.381 pessoas (oito zonas sanitárias) as medidas que atualmente já restringem a mobilidade de mais de 850 mil habitantes, para impedir a propagação da pandemia de covid-19.
Esta medida vai ser aplicada na segunda-feira, o que fará com que passem das atuais 37 para 45 as zonas sanitárias na área metropolitana de Madrid com restrições à mobilidade dos cidadãos: não é permitida a entrada ou saída, exceto para ter acesso a bens essenciais ou ir trabalhar, a lotação nos espaços fechados é reduzida para 50% e os estabelecimentos comerciais e hoteleiros devem fechar às 22h.
O conselheiro-adjunto regional da Saúde Pública, Antonio Zapatero, anunciou as medidas e insistiu para que todos os madrilenos, até os que não estão dentro das 45 zonas sanitárias em que há restrições à circulação de pessoas, passem a «evitar todas as deslocações desnecessárias».
Porém, o Governo espanhol ainda considera estas restrições insuficientes: «Nós propusemos alargar as medidas que a região de Madrid decidiu aplicar em certas zonas […] a toda a cidade de Madrid», com uma população de mais de três milhões de pessoas, «e a certas cidades suburbanas» , disse o ministro da Saúde espanhol, Salvador Illa.
Espanha já registou mais 30 mil mortes devido ao coronavíus.
Cumprir as regras para evitar confinamento
Apesar das ameaças de um segundo confinamento, para já, o Reino Unido vai lidar apenas com mais medidas e restrições. Pubs e restaurantes no Reino Unido começaram a encerrar às 22h e, para evitar ajuntamentos, os britânicos estão proibidos de entrar em casas que não as suas. Estas medidas, implementadas no início da semana, juntam-se a todo um pacote que já tinha sido aplicado em todo o Reino Unido. A mais sonante foi a multa aplicada às pessoas que, caso testem positivo ou apresentem sintomas de coronavírus, não cumpram o auto-isolamento durante 14 dias. Estas poderão ser penalizadas entre 1.090 euros e 11 mil euros, no caso de reincidência.
No entanto, de forma a encorajar o cumprimento destas regras, as pessoas com rendimentos baixos poderão receber uma ajuda de 545 euros, caso não tenham a possibilidade de recorrer ao teletrabalho no período de quarentena.
Além disso, estão proibidos os ajuntamentos de mais de seis pessoas e foram impostas restrições adicionais em regiões do norte e centro de Inglaterra devido a surtos localizados. Entretanto, escolas e locais de trabalho continuam abertos.
Face a estas novas regras, foram organizados protestos em Londres, que culminaram em confrontos entre manifestantes e polícias.
Os protestantes, reunidos em Trafalgar Square, tentaram impedir a polícia de consumar a prisão de manifestantes e o trânsito foi interrompido naquela zona. Esta é uma fase complicada para o país, esta sexta-feira registou, pela segunda vez seguida, o maior aumento diário de infeções no país desde o início da pandemia, com 6.874 casos, subindo o número de infeções para um total de 423.236.
O presidente da Câmara de Londres chegou a «avisar» a população que «não se pode descartar que, em algum momento da próxima semana, se volte a pedir aos cidadãos que trabalhem a partir de casa» e alertou que só cumprindo as regras se pode evitar um novo confinamento.
O primeiro-ministo Boris Johnson dirigiu-se à população esta semana para afirmar que não se vai «poupar esforços em desenvolver vacinas, tratamentos, novas formas de testagem em massa», ressalvando, contudo, que os progressos têm que ser «visíveis». «A não ser que façamos progressos visíveis, assumimos que as restrições que anunciei vão ficar em vigor durante pelo menos seis meses», declarou o primeiro-ministro.
Recorde diário em França
O país governado por Emannuel Macron também quebrou o seu recorde diário de infeções, na quinta-feira, com um total de 16.096 casos positivos registados em 24 horas. Segundo as autoridades de saúde francesas, já foram infetadas 497.237 pessoas em França.
Foram ainda confirmadas mais 52 vítimas mortais relacionadas com o novo coronavírus desde ontem. Desde o início da pandemia, 31.512 morreram infetadas com covid-19 em França. Os focos de contaminação no país continuam também a aumentar em França, o que levou o governo a adotar mais medidas de prevenção. Entre os 101 distritos franceses, 69 foram colocados em alerta vermelho. Cidades como Paris, Lille ou Montpellier passaram a adotar um limite máximo de pessoas presentes por evento, reduzindo de cinco mil para mil. Foram proibidas festas ou ajuntamentos de mais de 10 pessoas em parques e ginásios e bares vão fechar a partir das 22 horas.
Apesar de não ser obrigatório em toda a França, Paris e outras cidades tornaram obrigatório o uso de máscara. A região de Bouche-du-Rhône, que pertence Marselha, também decretou esta medida, com exceção para os grandes parques ao ar livre.
Nas zonas de Aix-Marselha e da Guadalupe, consideradas como «zonas de alerta máximo», bares e restaurantes vão ser encerrados a partir de hoje.
O Governo apelou a que as empresas recorram ao máximo ao teletrabalho e que as pessoas reduzam as suas interações sociais, para evitar um regresso ao confinamento total.
O primeiro-ministro francês, Jean Castex, abordou este cenário e não excluiu a possibilidade de um novo confinamento se o número de casos continuar a subir. «O que eu não quero é que voltemos ao mês de março», disse no programa Vous avez la parole do canal France 2. «Se não agirmos, podemos ficar numa situação próxima da Primavera. Isso poderia significar novo confinamento, é preciso evitá-lo», afirmou. «Não se brinca com uma pandemia», acrescentou Castex.