O ex-ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes considerou que Portugal tem pela frente “meses muito difíceis” e que "seria absolutamente insuportável" fechar o país.
“Temos pela frente, seguramente, três, quatro meses muito difíceis e é nessa dificuldade que temos de trabalhar em união entre todos, alinhando sempre o discurso político com a realidade, gerindo bem as expectativas das pessoas, não dramatizando, nem assustando, mas também não desvalorizando os riscos que temos pela frente", disse o ex-governante em declarações à agência Lusa, reforçando que os próximos meses serão "difíceis" porque coincidem com o inverno e com outras infeções respiratórias.
Ainda assim, Adalberto Campos Fernandes, ex-ministro da Saúde no anterior Governo socialista de António Costa, considera que o país tem condições "de chegar à primavera do próximo ano num quadro de alguma estabilidade, que permita relançar o país sem o fechar agora, porque o encerramento agora seria, de facto, absolutamente insuportável".
Para o antigo governante a grande preocupação são "os doentes que estão sem tratamento por causa da fixação ou da concentração de recursos" na resposta à pandemia que, no seu ponto de vista, "é excessiva" nalguns casos.
"Temos de ter uma estratégia de abertura do sistema, quer na área pública do SNS, quer com a colaboração do setor social e privado, e temos de recuperar rapidamente a resposta que está atrasada de pessoas que têm as doenças crónicas ou agudas que nada têm a ver com a covid e precisam de ser atendidas", defendeu, apelando a que todos colaborem para que "estes quatro ou cinco meses não venham agravar aquilo que já foi negativo na acumulação de atrasos" desde o início da pandemia.
"O que se está a passar em Portugal e na Europa é natural porque nós não temos imunidade estabelecida, não temos vacina e, portanto, temos uma população que, de uma forma geral, está suscetível a este tipo de infeção", considerou.
O antigo ministro da Saúde diz ainda que é "muito improvável" voltar a ter cerca de 30 óbitos diários por covid-19. Adalberto Campos Fernandes lembra que em março e abril os países, de uma forma geral, foram apanhados desprevenidos”, no entanto, “os médicos têm hoje uma compreensão mais aprofundada da doença".
"É aprender a viver com esta situação nos próximos quatro meses, não a desvalorizando seguramente, mas também não criando uma hipervalorização que efetivamente não ajuda em nada", disse à mesma agência noticiosa.