Há uns dias surpreendi os meus filhos numa conversa muito séria acerca da escola. Fingi não estar a ouvir, mas prestei toda a minha atenção. O tema interessa-me. A minha filha (que está no equivalente ao 4.º ano) gabava-se de não ter ficado na turma da professora «tão jovem que quase parece que nem sabe ensinar». Na sua opinião, falta-lhe experiência e os alunos não vão aprender nada porque não a respeitam. Por outro lado, o meu filho (que está no equivalente ao 6.º ano) queixava-se que a única professora que não gosta é a de matemática, a sua disciplina favorita. «É velha, chata e passa o tempo a gritar».
Dei por mim a recordar os meus tempos de estudante. Era boa aluna, adorava aprender e ia sempre feliz para a escola. Mesmo as disciplinas que gostava menos eram um estímulo para me superar. Foi assim até à universidade e a formação continuou no estrangeiro. Mas também sofri com os professores mais intransigentes e severos que ofendiam em público. Uma vez, chamei bruxa a uma que humilhou um colega à minha frente. Não suficientemente baixinho porque ela ouviu e puniu-me. Ainda hoje não sei como tive coragem.
Os professores têm o poder de incentivar-nos e dar-nos asas para voar. Se comecei a escrever poemas no início da adolescência, devo-o a uma docente de português. Mas nem toda a classe ensina por prazer ou vocação. E os que mais sofrem são os alunos. Certos professores inferiorizam, espezinham e matam os sonhos das crianças. Felizmente, são uma minoria! Mas ainda assim as suas ações têm consequências, muitas vezes, irreparáveis na autoestima dos que aprendem.
O educador/professor tem uma grande responsabilidade no percurso de vida de um ser humano e, só por isso, já deve ser reconhecido. Obviamente, há alguns que não merecem o seu ordenado pelo trabalho medíocre que prestam. Mas a maioria deveria ter mais euros no final do mês. São mal pagos em quase todo o mundo, mesmo que alguns estudos demonstrem o contrário. São obrigados a mudar de local de trabalho regularmente, ficam anos a fio no mesmo escalão, sofrem pressão do ministério da educação que muda mais vezes de programas que um homem de camisa e ainda têm que aturar os caprichos de certos encarregados de educação. Isto sem mencionar as diferenças abismais e vergonhosas entre os sistemas de ensino público e privado. Mas este assunto fica para outra altura por falta de espaço.
Desenganem-se os que pensam que os professores portugueses são uns coitadinhos e que todos os outros vivem como uns reis. Os meus filhos já frequentaram escolas em vários países e a realidade não é muito diferente da do nosso país. Congelamento da carreira, subcontratos, falta de apoios educativos, horários semanais reduzidos também são comuns em Espanha, França, Irlanda e Itália, por exemplo.
De acordo com o relatório ‘Education at a Glance 2018’, apresentado pela OCDE, é em Portugal que os ordenados dos docentes são mais elevados quando comparados com os licenciados de outras áreas. Este aumento pode ir de 35% a 50%. Os que estão no final da carreira ganham mais do dobro dos que começam a ensinar. As regalias são ainda maiores para os diretores da escola. É também no nosso país que a carga horária é mais reduzida, o que se justifica com o aumento de alunos por classe, contrariando a tendência dos restantes países da OCDE. É preciso mudar (quase) tudo, mas falta a vontade. Como quase sempre. Sendo Portugal apresentado como o paraíso da classe docente por que razão somos o país com os professores mais velhos do mundo? Da próxima vez, direi ao meu filho que tem muita sorte!