O atropelamento de um agente da Esquadra-Moto da Divisão de Trânsito da Polícia de Segurança Pública (PSP), Jonas Guedes, por um motard que circulava pela berma do Eixo Norte-Sul, em Lisboa, ao final da tarde de segunda-feira, está a criar revolta entre os polícias. Mandado parar pela força de segurança, o homem de 28 anos, suspeito de tráfico de droga, inverteu a marcha e avançou sobre o agente da PSP que o seguia, deixando-o em estado grave. Fugiu, de seguida, mas acabou por ser detido pelas Equipas de Prevenção e Reação Imediata da PSP. Ouvido em primeiro interrogatório, o suspeito, que tinha consigo uma arma de fogo de 9 mm, foi colocado em liberdade – com apresentações semanais –, mas essa decisão judicial tem originado uma onda de indignação.
“A contestação está a aumentar, porque temos recebido queixas de todo o lado. Nunca vi tanta contestação. São mesmo muitas reclamações. Toda a gente sabe o trabalho que nós temos para apanhar estes indivíduos e, quando vão a tribunal, ficam com apresentações semanais. Estamos a falar de uma tentativa de homicídio e há ofensas à integridade física graves. Deveria ficar em prisão preventiva, mas não. Fica cá fora outra vez e é isto”, começou por dizer ao i o vice-presidente da Organização Sindical dos Polícias (OSP) da PSP, Jorge Rufino, adiantando que está a ser ponderada uma vigília à porta da unidade hospitalar em que o agente se encontra.
Segundo o i conseguiu apurar, Jonas Guedes foi transportado terça-feira à noite do Hospital São Francisco Xavier para o Hospital de Sant’Ana, na Parede, no concelho de Cascais, sendo submetido hoje, pelas 10 horas, a uma intervenção cirúrgica à perna esquerda, onde sofreu três fraturas, uma das quais exposta.
De acordo com Jorge Rufino, este é apenas um exemplo de uma série de atropelamentos a agentes da PSP, lembrando que houve registo de outro, também na terça-feira, na Avenida de Ceuta, em Lisboa. “Não se tratou de uma situação tão grave”, ressalvou. E lamentou o facto de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ainda não se ter pronunciado sobre estes atropelamentos.
“O Cristiano Ronaldo acusou positivo, é certo, mas é estranho que o Presidente da República tenha desejado as melhoras ao Ronaldo e não tenha uma palavra dirigida a este agente da PSP que foi atropelado de forma bárbara. Ainda não ouvimos nenhuma palavra de apreço. Uma palavra de conforto não lhe ficava nada mal, porque os polícias são todos os dias agredidos. E parece que está tudo contra nós. Uma sociedade só funciona com segurança. E se não houver segurança torna-se uma anarquia”, atirou o vice-presidente da OSP, confessando ainda que, devido a estas situações, há já agentes da PSP “com medo de ir para a rua”.
“O nosso sindicato vai tomar medidas. Estamos de mãos atadas. Ser polícia hoje em dia é muito complicado. Já somos poucos na rua e para a rua vão os mais novos, porque os mais experientes ficam dentro da esquadra. Alguns têm medo de sair à rua”, concluiu.
Através de uma publicação na página oficial de Facebook – que conta com cerca de sete mil reações e mais de mil comentários –, a PSP desejou “as rápidas melhoras” ao agente Jonas Guedes, cuja data da alta hospitalar ainda não é conhecida.
Polícias preocupados com infeções Casos de agentes infetados com covid-19 existem desde o confinamento, mas agora, com o aumento do número de casos, os polícias temem um aumento das infeções dentro da PSP. E, se isso acontecer, explicou o presidente da OSP/PSP ao i, Pedro Carmo, pode estar em causa o fecho temporário de esquadras, como aconteceu em meses anteriores na esquadra de Valongo, por exemplo.
Neste momento, avançou o sindicato, existem “esquadras em que há elementos fora de serviço” depois de testarem positivo, e outros elementos “de quarentena por contacto com infetados”. Um dos casos é o do Comando de Lisboa, na zona das celas, em que “um grupo de trabalho está fora de serviço, porque apareceu um elemento contagiado”, tendo os colegas de cobrir o turno daqueles que estão ausentes.
A somar ao aumento do número de casos, Pedro Carmo refere ainda que foram retomadas as operações Stop, sendo feito teste de álcool aos condutores. “O contágio dos elementos retira capacidade operacional, pois as esquadras que já têm pouco efetivo ficam com menos devido aos contágios e à necessidade de ter elementos de quarentena por contacto com infetados”, acrescentou o sindicato.