Lewis Hamilton. O ano de todos os recordes

Lewis Hamilton não tira o pé do acelerador e, no passado fim-de-semana, em Nurbrugring, igualou o número de vitórias de Michael Schumacher em grandes prémios de Fórmula 1. O piloto britânico continua focado em imortalizar o seu nome.

Quando, no primeiro dia de outubro de 2006, Michael Schumacher cruzou a bandeira xadrez na dianteira da corrida pela última vez – conquistando assim a sua 91.ª vitória da carreira na categoria rainha do automobilismo mundial –, Lewis Hamilton era um jovem de apenas 21 anos, muito promissor, é certo, já com pé e meio na Fórmula 1, mas ainda longe de imaginar que, um dia, precisamente 14 anos depois, ocuparia o trono do piloto alemão heptacampeão do mundo.

Pouco depois da vitória de Schumacher em Xangai, na China, Lewis era apresentado como o novo piloto da McLaren para a temporada de 2007, onde faria dupla com o campeão do mundo em título Fernando Alonso. E logo na altura, o britânico anunciou ao que vinha, rejeitando ser apenas mais um, e reclamando para si mesmo – com a ambição e arrogância desmedidas dos campeões – as atenções de todos: imprensa, fãs, colegas e adversários. 

De poucas palavras, foi na solidão do seu monolugar que Lewis começou, desde o primeiro sinal de partida, a trepar em velocidade os degraus que elevam os pilotos de Fórmula 1 à imortalidade. Ou, pelo menos, alguns deles.

Sem se preocupar demasiado com os outros (de um individualismo arreigado que nunca se preocupou em ocultar), Lewis fixou-se simplesmente na tarefa de cruzar a meta mais rápido que os adversários, onde sempre incluiu quem consigo partilha cores e pit lanes. E é assim, precisamente, ainda hoje: nos treinos, nas qualificações ou em cada grande prémio.

Este espírito competitivo levado ao extremo acarretou-lhe, porém, duras (e longas) batalhas por travar, a começar logo pela conturbada relação com o seu colega de equipa Fernando Alonso (à época mais categorizado) e até mesmo com os próprios responsáveis da McLaren – que não hesitava em acusar de favorecerem o piloto espanhol –, que marcou toda a temporada de estreia de Lewis na Fórmula 1. Todavia, quando os motores se ligaram, pés no acelerador, a forma veloz como o monolugar de Lewis voava pela pista rapidamente ‘atirou’ para segundo plano qualquer desconforto que, eventualmente, os seus novos patrões pudessem sentir perante o seu caráter truculento. 

Lewis venceu o seu primeiro grande prémio no Canadá, a 10 de junho de 2007. Um fim-de-semana perfeito para o então piloto da McLaren, que se superiorizou a Alonso desde o arranque, conquistando a pole position. No dia seguinte, Lewis voltou a dominar uma corrida atribulada – marcada pelo brutal acidente do piloto polaco da BMW Robert Kubica –, controlando da primeira à última volta, e subindo ao lugar mais alto do pódio pela primeira vez.

E o ano só não foi (totalmente) perfeito, pois Lewis perderia o campeonato para o finlandês Kimi Räikkönen (o último título de pilotos conquistado pela Ferrari), por apenas um ponto, devido, sobretudo, aos erros por si cometidos na última prova da temporada, disputada no circuito de Interlagos, no Brasil. Apesar da frustração, a crítica foi unânime em apontar o britânico como o piloto que viria a marcar a próxima geração da Fórmula 1. Não se enganaria. Com apenas 22 anos, o jovem Lewis tinha-se apresentado ao mundo como um relâmpago carregado de energia e velocidade – e foi precisamente a partir desse momento que os capítulos mais dourados passaram à eternidade.
Sempre competitivo, sempre polémico, Lewis não voltou a olhar para trás, passando a ganhar cada vez mais vezes. E a ser adorado por milhões em todo o mundo e também… odiado por outros tantos. Não haverá, certamente, estatísticas sobre o assunto, mas, pelo menos, certo será que nomes como os de Alonso, Nico Rosberg, Felipe Massa ou Sébastian Vettel não farão parte da lista de nenhum dos seus clubes de fãs.

Em 2008, Lewis confirma todo o seu potencial e, numa época marcada pela regularidade, vencendo ‘apenas’ seis grandes prémios (precisamente os mesmo que os do brasileiro da Ferrari Felipe Massa, que seria vice-campeão), sagra-se campeão do mundo de Fórmula 1 pela primeira vez, tornando-se, na altura, o mais jovem campeão do mundo de todos os tempos, com 23 anos, nove meses e 25 dias (embora fosse despojado dessa marca em 2010, pelo alemão da Red Bull Sébastian Vettel, campeão com 23 anos, quatro meses e 11 dias).

Hamilton, porém, queria mais. Muito mais. E embora continuasse competitivo, fosse ganhando aqui e ali, tomou uma decisão de rutura em 2012, quando concluiu que pela McLaren, onde alinhava há cinco anos – e a que jurara fidelidade –, não conseguiria, muito provavelmente, elevar-se ao Olimpo a que julgava estar destinado. Partiu, então, anunciando em setembro desse ano a transferência para a rival alemã Mercedes, mesmo apesar de a escuderia britânica tudo ter feito para evitar este desfecho, acenando-lhe com novo contrato milionário, que faria dele o piloto mais bem pago de todo o circuito.

Na Mercedes, com um carro mais rápido, Lewis pôde colocar em pista todo o talento e experiência já acumuladas, cedendo cada vez menos face à concorrência. Nestes últimos sete anos, o piloto britânico foi somando vitórias e recordes, como o maior número de pontos na carreira (3.636), o maior número de pole positions (96), o maior número de pódios (159), o maior número de grand chelem em uma temporada (três) – quando um piloto faz pole position, a volta mais rápida e vence a corrida, liderando de ponta a ponta – e ainda o maior número de pontos numa temporada (413). 
No último domingo, ao vencer o Grande Prémio de Eifel, disputado no circuito de Nurburgring, na Alemanha, Lewis igualou o recorde de 91 vitórias em grandes prémios de Michael Schumacher. E no final da prova, o filho do antigo piloto alemão, Mick Schumacher, também ele piloto, entregou a Lewis um capacete do pai, num momento que, certamente, ficará gravado na memória de todos os amantes do desporto automóvel.
Igualado mais um recorde, Lewis Hamilton promete não ficar por aqui. É que com a vitória no passado fim-de-semana, o piloto britânico deu um importante passo rumo à conquista de mais um título de campeão do mundo. E caso a vitória se confirme, este será o seu sétimo título de campeão do mundo, voltando a igualar Schumacher, desta vez, como o piloto com mais campeonatos ganhos na história da modalidade. 

Será já no próximo dia 25 de outubro, que Lewis Hamilton regressará ao volante, para, quem sabe, escrever o 92.º capítulo de uma carreira ímpar, dando a ‘estocada’ final na concorrência – e tudo acontecerá, precisamente, no regresso da Fórmula 1 a solo nacional, no Grande Prémio de Portugal, a disputar no circuito do Algarve.