Depois da visita às urnas neozelandesas e de contados todos os votos, Jacinda Ardern foi eleita oficialmente, pelo segundo mandato consecutivo, primeira-ministra do arquipélago no oceano Pacífico.
O Partido Trabalhista (de centro-esquerda), liderado pela popular política de 40 anos, alcançou quase 50% dos votos, o que permitirá ocupar 64 dos 120 lugares no Parlamento da Nova Zelândia. Já o Partido Nacional (centro-direita) ganhou 27%, o correspondente a 35 deputados. Esta foi a maior vitória dos trabalhistas em 50 anos.
No seu discurso de celebração, Ardern, perante um auditório de mil pessoas em Auckland, criticou a presente campanha para as eleições norte-americanas e referiu que as eleições “não têm de ser divisivas” e não precisam de ser sobre pessoas a “tentarem destruir-se”.
“Estamos a viver num mundo cada vez mais polarizado, um lugar onde mais e mais pessoas estão a perder a capacidade de ver o ponto de vista do próximo”, disse a primeira-ministra. “Espero que as eleições da Nova Zelândia mostrem que isto não é o que nós somos. Somos uma nação que sabe ouvir e que pode debater”.
Resposta positiva a respostas positivas O mandato de Ardern não foi dos mais ortodoxos nem dos mais simples. A primeira-ministra teve de lidar com o massacre das mesquitas de Christchurch, perpetrado por um supremacista branco e que resultou na morte de 51 muçulmanos, a erupção do vulcão de White Island, que resultou em 21 mortes, e um problema que ainda está a enfrentar, a gestão da pandemia causada pela covid-19, mas encontrou uma solução eficiente para praticamente todos os problemas.
Baniu armas no país após o massacre e a forma como encarou a pandemia, “agir cedo e em força”, fez com que a Nova Zelândia sofresse poucas consequências do vírus: desde o início da pandemia registou apenas 1886 infeções e 25 mortes.
Apesar de pelo caminho terem ficado promessas por cumprir da campanha de 2016 – tornar a habitação mais barata ou reduzir a pobreza infantil –, as propostas progressistas da primeira-ministra, defensora dos direitos da mulher e da justiça social, alcançaram o respeito e recolheram elogios não só dos seus conterrâneos, mas também da comunidade internacional.
Desafios do novo mandato Depois de um conturbado primeiro mandato, o segundo não se avizinha mais simpático para Ardern. O Governo terá agora de enfrentar os efeitos económicos provocados pela pandemia e o consequente confinamento, numa altura em que o país já enfrenta a maior recessão em décadas, com impactos em muitas das pequenas e médias empresas.
Por resolver ainda está a questão da habitação social, que a primeira-ministra tem vindo a prometer resolver desde 2017. Se, no início do seu mandato, existiam 4 mil pedidos, agora, a lista de espera conta com aproximadamente 20 mil e, com a recessão, é de esperar que os pedidos cresçam ainda mais, reporta a Al Jazira, que relembra ainda a subida preocupante do preço das habitações.
Com os olhos colocados em Ardern, as expetativas são altas para observar quais serão os próximos passos do Partido Trabalhista, que não parece acusar a pressão.
“Queremos ganhar outra vez em 2023”, disse ao Guardian James Shaw, colíder do Partido Verde, que poderá voltar a fazer coligação com os trabalhistas, tal como no mandato anterior. “Estamos mais fortes no final do nosso primeiro mandato no Governo do que estávamos no começo. Desafiámos as probabilidades. Fizemos história”, congratulou-se o político.