Listas de espera intermináveis e até filas à porta das farmácias: a depressão Bárbara chegou para fazer estragos um pouco por todo o país, mas em nada tem afetado a procura pela vacina da gripe nas farmácias. O i sabe que muitas pessoas, principalmente de faixas etárias mais elevadas, têm optado por evitar os centros de saúde, devido ao contágio por covid-19, dirigindo-se à farmácia de serviço mais próxima para lhes ser administrada a vacina. E ontem não foi exceção. Em Lisboa, algumas pessoas fizeram filas nas farmácias. E no norte do país também. Nesse sentido, ao i, a farmacêutica Isabel Rodrigues, que trabalha no concelho de Felgueiras, distrito do Porto, adiantou que a procura tem sido superior à dos outros anos.
“Temos mesmo muita procura, muitos telefonemas e pessoas sempre a perguntar pela vacina da gripe. Felizmente, a nossa zona de espera é abrigada._As listas de espera são enormes. E grande parte do problema é o pânico que as pessoas têm em relação à covid-19, porque parte dos nossos utentes têm direito à vacina gratuita no centro de saúde. No entanto, não querem esperar muito tempo para a tomar, preferem vir à farmácia e pagar. Nós estamos a tentar ajudar essas pessoas”, sublinhou, fazendo alusão à escassez de vacinas da gripe verificada nas farmácias nos últimos dias.
“As vacinas só chegaram na sexta-feira, no total 51, mas só a partir de segunda-feira pudemos administrar. O Estado fez ainda chegar a todas as farmácias três vacinas para os farmacêuticos que administram vacinas. Essas três são gratuitas e estão relacionadas com um acordo entre o Estado e a Ordem dos Farmacêuticos”, concluiu.
A primeira fase da campanha de vacinação, recorde-se, começou há cerca de três semanas, a 28 de setembro, para grupos prioritários – idosos em lares, profissionais de saúde e grávidas –, com 350 mil vacinas disponíveis. E a segunda fase teve início na segunda-feira, com as farmácias a poderem, a partir dessa data, administrar as vacinas da gripe.
Críticas a filas e à atitude de marcelo
Questionado pelo i, o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Rui Nogueira, adjetivou como um “disparate” o facto de as pessoas fazerem filas nas farmácias, lamentando ainda o gesto do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
”Ir a correr, no primeiro dia, fazer vacina é tudo aquilo que não se deve fazer. É mostrar aquilo que não se deve fazer. Era útil o Presidente ir em meados de novembro para lembrar aqueles que estão esquecidos e a fugir da vacinação. Teria sido mais útil. Ir a correr porque é o primeiro dia é uma mensagem desadequada. Pode ser interpretado como algo que tem de ser feito imediatamente”, começou por dizer, reforçando que “não é urgente ir levar a vacina em outubro”.
“É um disparate as pessoas irem para o frio e para a chuva, num dia como hoje [ontem]. Não cabe na cabeça de ninguém. Se levar a vacina em dezembro, ainda vai a tempo. Começámos mais cedo, em outubro, com a primeira fase porque tivemos de vacinar mais pessoas. O ideal seria vacinar na segunda quinzena de novembro. Mas não podemos vacinar dois milhões de pessoas em 15 dias. Então temos de começar agora para, em novembro, termos tudo vacinado. Mas não é preciso ir a correr. O importante era aproveitar aqueles que têm consulta marcada nos centros de saúde para serem vacinados”, explicou, criticando ainda o facto de algumas pessoas reservarem a administração da vacina nas farmácias.
“As pessoas fazem reserva em várias farmácias. Mas essa pessoa tem direito a uma vacina no centro de saúde gratuitamente. No entanto, tem medo e vai reservar numa farmácia. Mas, pelo sim pelo não, também reserva noutra. E a mulher, porque tem muita cautela com o marido, reserva também noutra farmácia. E acabam por reservar para a mesma pessoa em três ou quatro sítios diferentes. Não é de todo adequado”, atirou.
Há vacina para todos
“Todos os anos sobram vacinas”, alertou Rui Nogueira, dizendo que este ano houve apenas uma “correção” na distribuição das mesmas para garantir que há vacinas para todas as pessoas que têm indicação para as tomar nos centros de saúde.
“Não há tantas em farmácias por causa disso. Mas só por causa disso. O importante é garantir que não há falta de vacinas e que não é preciso ir a correr a lado nenhum”, rematou.