A realidade do bullying é muito mais avassaladora do que se pensa. Rita de nome (fictício) é uma criança de dez anos e anda numa escola como tantas as outras crianças. Não obstante, Rita não tem amigos, Rita é ignorada, Rita é invisível. Quais são os padrões do anorético, normal e gordo? Se forem demasiado magras são ‘esqueléticas’, normais, podem ser consideradas, ‘feias’, e um pouco acima do peso, ‘gordas’. Rita é mais cheia que algumas colegas e deve ser menos cheia que outras, usa óculos (logo um alvo a abater) e é super-querida. No entanto, não existe um intervalo que não passe sozinha, agarrada ao telemóvel a mandar mensagens para a mãe, a dizer: «Mãe, és a minha única amiga!». Não consigo imaginar, o que pode sentir o coração desta mãe ao ler estas palavras, é que segundo a política de algumas escolas e professores não é ‘bonito’ fazer queixinhas dos colegas, mesmo que estes deem pontapés, chamem nomes, ou façam perseguições aterradoras. Foi isso que aconteceu a Rita quando um bully lhe chamou de «gorda nojenta». Rita foi ter com o professor em lágrimas, e o professor disse: «Rita não faças queixinhas». Mesmo que o professor tenha tratado da questão às escuras, a Rita não sabe, só sabe que continua sem amigos, que ninguém gosta dela, porque é uma ‘gorda nojenta’.
Na altura que escrevo este artigo, com um alerta para a questão do bullying, particularmente neste mês, em que dia 20 de outubro é o dia mundial contra o bullying, ainda continuamos a ver tantas crianças a serem tratadas como fantasmas. Que sofrem de ansiedade extrema só de fazerem o percurso até à escola. Que se fingem de doentes. Que vão morrendo aos poucos, tudo isto porque outras crianças impedem que a sua infância seja feliz e completa. A escola que devia ser sua amiga e os professores os seus atentos guardiões, precisa de fazer melhor! A Rita deambula sozinha, com a companhia do telemóvel, enquanto as outras e outros que não querem saber dela, fazem vídeos no Tik-Tok, mas repudiam-na como se ela não fosse digna de respirar. E o problema é que algumas crianças pensam isso. Que custa demasiado respirar num mundo de ataques, insultos e solidão. Temos portanto o dever de proteger estas crianças!
Existem dados que demonstram que 65% das crianças com obesidade em Portugal sofrem de bullying. A Polícia de Segurança Pública (PSP) lançou a campanha ‘Bullying é para fracos’ para sensibilizar alunos, professores e pais para as várias formas de bullying, quer sejam agressões físicas, passando pelas psicológicas e também da violência que chega através da internet. No entanto, temos de continuar a fazer mais pela Rita, pelo João, pelo José, pela Maria, pela Beatriz, pelo Tomás. O bullying não é só para fracos é para predadores infantis e em caso de desvalorização leva à morte das suas vítimas!