A conferência de imprensa de atualização de informação sobre os dados, desta segunda-feira, dos infetados pelo novo coronavírus contou com a presença da Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas. Naquilo que diz respeito à situação epidemiológica da Região Norte, a dirigente explicou que "temos diferentes culturas, temos diferentes movimentações sociais e sociodemográficas" e acrescentou que esta região "tem uma dinâmica de viver em convívio, sobretudo familiar, de amizade e proximidade, que leva a que de facto as pessoas [se encontrem]". Por outro lado, evidenciou que, muitas das vezes, os encontros familiares decorrem sem recurso à limitação do número de contactos, "sem limitar a distância entre nós", algo que também ocorre às refeições "quando nem sequer temos uma barreira que nos proteja. [Por isso] percebe-se que a dinâmica na região Norte seja diferente das outras regiões e portanto mais propício à transmissão da doença".
É importante referir que Portugal regista uma taxa de incidência acumulada, de há 14 dias, de 240 casos ou mais por 100 mil habitantes segundo dados veiculados pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC). Freitas salientou que, atualmente, a taxa de testes positivos realizados é de 9,8%, sendo que "nunca se testou tanto" como agora.
A DGS publicou, também esta segunda-feira, a Estratégia Nacional de Testes para SARS-CoV-2 e, através deste documento, são transmitidas medidas de prevenção como o encerramento de Estruturas Residenciais Para Idosos (ERPIs) e instituições similares "em situação de surto" e a utilização de testes rápidos de antigénio (TRAg) para que seja possível aplicar "rapidamente as medidas adequadas de saúde pública" nestes casos específicos. Neste ponto, Graça Freitas salientou que pretendeu "deixar aqui bem claro que o testes de antígenio negativo numa pessoa com forte suspeição de clínica de covid-19 não dispensa a realização de teste molecular para confirmar o diagnóstico". De seguida, sobre este tópico, a dirigente elucidou que a decisão foi tomada porque "estes testes são o resultado da evolução do conhecimento", esclarecendo que se fala há muito acerca dos testes em questão, porém, "só agora temos disponíveis no mercado testes rápidos com boa sensibilidade e especificidade. E também porque neste momento temos indicações internacionais que nos dizem que é seguro utilizar estes testes rápidos de antigénio sobretudo casos positivos e nos primeiros cinco dias de sintomas — para sintomatologia, não para positivos para o teste".
Naquilo que concerne o perfil do doente da segunda vaga, Freitas deixou claro que este difere daquele apresentado pelos doentes da denominada primeira vaga, apontando que "temos uma grande percentagem de doentes que são adultos jovens, começamos sobretudo nos 20 anos e vamos até aos 49, 59 anos". A diretora evocou ainda os casos pediátricos, na medida em que "as crianças muito pequenas têm apresentado taxas de incidências muito baixas em que proporcionalmente 4% dos casos da última semana [dia 19 a 25] eram dos 0-9 anos", algo que representa "uma boa notícia porque nos permite encarar para as creches e jardins infantis porque neste grupo a doença não se propaga tão facilmente ou nada assim o indica". Transmitiu que, na faixa etária que compreende as idades entre os 10 e os 19 anos, existe uma maior percentagem de casos positivos que se situa na ordem dos 9%.
Relativamente à forma como foi organizado o Grande Prémio de Portugal em Fórmula 1, no autódromo do Algarve, este fim-de-semana, e que teve autorização para receber diariamente cerca de 27 mil pessoas, ao longo de três dias, Freitas reconheceu algumas falhas "principalmente nos dias do treino". Porém, mencionou que "o Algarve tem sido uma região muito menos afetada do que as restantes regiões portuguesas. Hoje, por exemplo, só teve 27 casos registados". A diretora-geral da Saúde lembrou que o autódromo tem espaço para 100 mil pessoas, o Algarve constitui a região com "o menos R(t) neste momento" e foram fechados acessos a peões, realçando que "foi com estes pressupostos que a DGS analisou a candidatura". Apesar de terem sido "aprendidas lições" por meio da organização da prova, Freitas negou que "a situação tenha sido catastrófica" e que "possa surgir algum acontecimento dramático" mesmo depois de várias pessoas não terem respeitado o distanciamento social. Para finalizar, mencionou: "Lições aprendidas para o futuro: ou restringir os eventos ou limitar. Há uma corresponsabilidade que é nossa, dos cidadãos, da organização e da DGS".