O colégio de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos (OM) defende medidas regionais e a declaração do estado de emergência como forma de minimizar a transmissão comunitária do novo coronavírus.
Numa carta aberta ao Ministério da Saúde, publicada esta sexta-feira pelo jornal i, a direção do colégio de Medicina Intensiva relembra que “estamos numa fase ascendente da curva pandémica” e que “nenhum sistema é capaz de uma resposta infinita”.
Assim, os intensivistas consideram que “proteger o cidadão e o SNS implica, neste momento, a definição regionalizada de medidas de Saúde Pública diferenciadas”, uma vez que só assim será possível tratar todos os portugueses “com covid-19 e com outras patologias, com qualidade e com equidade", nomeadamente evitando cessar a atividade médica programada. Para que estas medidas sejam possíveis, mesmo à escala regional, é “necessária a declaração do estado de emergência”, já instituído em sete países europeus.
Na carta, subscrita pelo bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, a direção do colégio de Medicina Intensiva considera que o país falhou em “três vertentes determinantes”, nomeadamente no modelo de comunicação, no modelo de preparação do sistema de saúde e no modelo de intervenção para minimização da transmissão viral comunitária.
“Precisamos de erradicar conteúdos punitivos ou ameaçadores sobre escolas ou setores da população e de erradicar a fragilidade da solidez científica com que algumas informações são transmitidas. Sem informação de qualidade, sem cidadãos devidamente informados e sem conteúdos claros, a convocação coletiva para um objetivo comum – a proteção do cidadão e da sociedade – é inatingível e a responsabilização do cidadão impraticável”, refere a carta, que defende ainda que “a preparação do SNS carece do reconhecimento das suas potencialidades e das suas fragilidades”.
“Precisamos de medidas que potenciem os recursos existentes e que permitam a capacitação adicional do SNS”, lê-se.
“As projeções e previsões não são um fim em si mesmas. São realizadas para melhor planear a resposta que as destrua e as negue. As previsões não são fatalidades. Prevemos para modular o futuro. Para o modular, precisamos de planear e intervir. O momento é agora. Assim nos dizem as previsões. Se falharmos reiteradamente neste propósito civilizacional que é a defesa dos cidadãos e da sociedade e de um dos seus maiores valores – o Serviço Nacional de Saúde – restar-nos-á, no fim do dia, a implacável decisão de implementar o confinamento generalizado forçado. A suspensão da nossa vivência em domínios tão matriciais, como sejam o económico, social, escolar, universitário, cultural, espiritual, desportivo, lúdico, terá efeitos devastadores, que perdurarão por tempo indeterminado. Se agirmos agora, será ainda possível evitá-lo”, alertam os intensivistas.