por Judite de Sousa
1. António Costa é um político hábil. Há muitos anos que conhece como ninguém os corredores do poder e o seu instinto leva-o a seguir os caminhos mais tortuosos da governação com mestria, mesmo que tenha que dar muitas vezes exercícios de acrobacia. Não é fácil governar em minoria quando o pobre é grande e a esmola pequena. Ainda para mais, tendo como aliados partidos que olham para o orçamento como um saco sem fundo de onde, em tese, é sempre possível conseguir mais despesa. Mas foi esta a opção de Costa há quatro anos: governar com o apoio parlamentar da esquerda ora cedendo às exigências do Bloco, ora às do PCP. Com a ameaça velada de que vinha aí o apocalipse se o orçamento não passasse, Costa conseguiu suster os ímpetos mais revolucionários do seu aliado mais fiável: o PCP. Garantir a abstenção dos comunistas é um trunfo importante quer ou não se trate de um favor político pela realização da festa do Avante!. Neste ponto, ambos ficaram a ganhar e a famigerada crise política, a acontecer, adiada mais algum tempo. Como em tudo na vida, cada minuto conta.
2. Irá Trump falhar a reeleição, a duas semanas das eleições presidenciais norte-americanas? As sondagens indicam que sim. A acontecer, será um facto previsível. Trump mostrou ser o homem errado para o lugar cimeiro da política americana e para o xadrez da geopolítica internacional. Intempestivo, mal preparado, sem uma visão que ultrapassasse a bolha de Manhattan, Donald Trump viu-se envolvido nas suas gafes, fakenews, temas menores sem ter conseguido ser convincente, coerente e persuasivo nos grandes assuntos que mobilizam a sociedade americana. Onde tinha que ser forte foi um Presidente fraco ou omisso e onde tinha que ser corajoso mostrou-se incapaz de tomar decisões e mostrar que estava à altura do lugar. Com a economia devastada e sem uma linha de rumo certeira, Trump vai muito provavelmente perder as eleições pelos efeitos dramáticos da pandemia que ele desvalorizou como se se tratasse apenas do vírus chinês. Esperava-se mais e principalmente mais humildade é bom senso.
Joe Biden não será o Presidente para a América deste alvor do novo século mas a política americana está de tal modo reduzida a cinzas que basta não fazer muito ruído para que a Nação possa respirar um pouco.