Hotéis esgotados, restaurantes cheios e ruas a fervilharem de gente e movimento. O Algarve experienciou – ao jeito de fim de semana prolongado (entre 22 e 25 de outubro) – o regresso ao ‘antigo normal’, graças à passagem, 24 anos depois, do ‘circo’ da Fórmula 1 pelo país.
O Grande Prémio de Portugal trouxe à região quase 40 mil pessoas – entre organização, jornalistas e espetadores –, para regozijo dos empresários locais, que por uma centena de horas puderam contornar a crise que tem vindo a fustigar os seus negócios, desde março. «A maioria do setor da restauração no Algarve (não só os estabelecimentos localizados nas proximidades do autódromo, mas mesmo em todo o território algarvio) teve uma enorme afluência durante estes quatro dias», confirma ao SOL Daniel Serra, presidente da Associação Nacional de Restaurantes (Pro.Var). Embora não existam ainda números oficiais – a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (Ahresp) prepara-se para divulgar um inquérito sobre o tema no decorrer dos próximos dias –, Daniel Serra sempre vai adiantando que «os muitos associados da Pro.Var já confirmaram que, durante estes quatro dias, a faturação dos restaurantes do Algarve terá alcançado valores próximos daqueles que, normalmente, eram alcançados durante os fins de semana de agosto, na época alta, antes do início da pandemia».
Face ao contexto atual, o impacto da passagem da Fórmula 1 pela região terá mesmo ultrapassado as previsões mais otimistas dos responsáveis locais e nacionais (ver pág. 31), pois, mesmo com todas as limitações impostas ao movimento de pessoas nos países de origem – e que travaram milhares de fãs estrangeiros, com viagens marcadas para o Algarve –, a resposta dada pelos adeptos portugueses terá superado todas as expectativas.
Os bons resultados refletiram-se igualmente no setor da hotelaria. «Ao contrário do que tem acontecido ao longo dos últimos meses, até mesmo durante o verão, desta vez, os hotéis nas imediações do autódromo estiveram praticamente cheios», afirma ao SOL Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA). O dirigente destaca que «os alojamentos em Portimão (sobretudo, nas localidades do Alvor, Praia da Rocha e Penina) tiveram uma taxa de ocupação muito alta, próxima da que é habitualmente registada durante a época alta».
Esperança pelo MotoGP
Desligados os motores, o Algarve regressou agora ao ‘novo normal’. Ou seja, os restaurantes e hotéis estão praticamente vazios. E as ruas desertas. Porém, os empresários locais ‘esfregam agora as mãos’ na esperança de replicarem a receita de sucesso da Fórmula 1 com o Grande Prémio de Portugal de MotoGP – que se realiza entre 20 e 22 de novembro (também no autódromo localizado em Portimão).
Perante o exemplo anterior, o evento é mesmo visto como fundamental para a «sobrevivência» de muitos negócios na região. Para tal, é no entanto necessário que, até lá, o público possa continuar a ser autorizado a ocupar lugar nas bancadas do autódromo. Daí, que as medidas restritivas impostas pelo Governo para este fim de semana tenham tido o efeito de fazer ‘disparar os alarmes’. Assim como o anúncio das falhas na organização da prova de Fórmula 1, identificadas pela delegada de saúde regional Ana Cristina Guerreiro (ver caixa). «A Fórmula 1 foi apenas uma gota no oceano. Uma gota importante para a sobrevivência, mas não quer dizer que tenha sido o suficiente para resolver o problema», diz Daniel Serra. O presidente da Pro.Var afirma «que é lógico que estes eventos servem de oxigénio para o setor da restauração», conquistando uma importância desmedida perante o cenário que se vive. «Há uma expectativa muito grande em relação ao MotoGP, até porque o próprio piloto português [Miguel Oliveira] é um habitual frequentador dos restaurantes desta zona», refere. Perante a importância do momento, Daniel Serra deixa um apelo ao Governo para que as restrições «tenham sempre em conta a realização e a importância destes eventos para as pessoas e para toda a região». «Neste momento, já há reservas nos hotéis e nos restaurantes, portanto, neste caso, é preciso excecionar estas situações. Se tal não acontecer, vamos assistir a outro desastre económico, com anulações em catadupa», conclui.
A mesma posição assume Elidérico Viegas. A AHETA_divulgou mesmo esta semana um comunicado onde se revela «satisfeita» com a realização do Grande Prémio de Fórmula 1 e do Grande Prémio de MotoGP na região, defendendo a sua continuidade nos próximos anos, uma vez que considera que estas duas iniciativas se inserem «num conjunto de meia dúzia de eventos âncora que o Algarve precisa para esbater a sua maior fraqueza – a sazonalidade».
Com as consequências da pandemia, Elidérico Viegas considera a realização destes eventos, com a presença de público, este ano e nos próximos, ainda mais fundamental. «Tendo em conta tudo o que se passou este ano, as consequências para a região, é preciso garantir a continuidade da realização destas provas. Não podemos perder todas estas vantagens. O Governo e todas as entidades parceiras têm de desenvolver todos os esforços para assegurar a continuidade destes eventos», reforça.