«Nunca antes se havia expressado com uma indecência tão serena o facto de que as vidas de todos os indivíduos não têm o mesmo valor». M. Houellebecq
Para quem quiser perceber o óbvio, explica-se em duas palavras.
Para Francisco Louçã, como escreveu um dia no Público, dizendo tudo, não há moral na política. Isto é, se o mundo fosse como ele diz, só há dois lados: o do mal e o do… mal. Ou seja, entre nazismo e trotskismo (para designar o lado de Louçã com o nome do seu ídolo), ambos racistas, não existiria nada.
No meio desses ódios simétricos, não existe nada para Louçã. Tal como não existia para Hitler, Mussolini ou Trotsky, Estaline ou Franco. Os que se manifestem fora desses dois lados do mesmo são instrumentos de um lado ou do outro. Não há os que enfrentaram esses ódios desavindos. Não houve, não resistiu e persiste o que os venceu. Aquilo a que um sobrevivente de um desses ódios iguais, J. Bronowsky, chamou a escalada do Homem. Não existiu nem existe, enfim, a civilização!
Escalada do Homem, nome que lhe chamariam os que morreram nos campos de extermínio nazis, nos gulags e matanças que Lenine, Estaline, Trotsky e Mao ordenaram. Matanças como na sua escala os vários Daeshs praticam hoje no Médio Oriente, na África e pelo mundo; ou, noutra escala ainda, os racistas nos EUA. Como praticariam aqui, se pudessem, os extremistas como Louçã se revela.
Para Louçã, o crime que omite, praticado pelos seus ídolos ou em nome deles, não é crime, é libertação e prece. Os crimes simétricos – tal como os conta no Expresso, omitindo os crimes dos do seu lado – são obra do demónio. Louçã é um cruzado, um arauto de mortes, digo eu.
E nesta simetria do mesmo se esgota para Louçã o mundo, a vida, os seres humanos. Os que não alinhem num dos lados do mesmo ódio terão de pagar esse pecado. Mais nada além desta esquizofrenia odiosa, que matou até ao inimaginável e continua sedenta de estigmatizar, colar estrelas na testa, exterminar quando o pode fazer. Pulsão de morte, fera pronta a filar a esperança e o futuro. Como Louçã não esconde.
Vou ilustrar para tornar ainda mais claro o que não o pode ser mais:
A asfixia de um negro nos EUA, Daniel Prude, é para Louçã o crime horroroso que realmente é. A decapitação do professor francês Samuel Paty é para Louçã um ato libertador.
Wiriyamu, que referiu, foi o massacre horrível que foi. E os massacres praticados por movimentos de guerrilha em Angola, que Louçã omite, não foram massacres? Homens, mulheres, crianças, brancos, negros e mestiços, queimados dentro das casas e cubatas, esquartejados, degolados, serrados vivos. Estes crimes não contam?
Para quem não sabe o que é um totalitário, eis um totalitário em todo o seu esplendor: Louçã!
Continuamos no meio desses demónios, que persistem em assombrar o mundo. Não tenhamos medo de os enfrentar – é o nosso medo que os alimenta. O de Louçã exibe-se agora sem vergonha entre nós, e chama pelo outro. Combatamos o que agora nos ameaça.
*Francisco Louçã, ‘Choque e pavor serão o futuro da politica?’, Expresso, 17/10.