Quando se fala na primeira vaga da pandemia, consigo perceber todas as incertezas, desconhecimentos, medo e pesquisa que necessitava ser feita para preparar o Sistema Nacional de Saúde. No entanto, tal não aconteceu.
Faz-me lembrar os incêndios. Muitas promessas, o mesmo SIRESP. A verdade é que a segunda vaga já nascia na barriga da primeira, bem aconchegada e alimentava por uma confusão generalizada, um Governo incapaz de ser concreto. Ora promove eventos de Fórmula 1 completamente desastrosos e epidémicos, ora proíbe que as pessoas vão prestar homenagem aos seus familiares. Ora diz que são proibidas as feiras ao ar livre (repito) ar livre, ora remete a mesma responsabilidade para as autarquias e sacode as mãos. Estamos no começo, e sublinho começo de um penoso inverno, com as corridas aos hospitais por causa da gripe, (já sem vacinas disponíveis) já para não falar das pneumonias, das amigdalites ou das leves constipações. A verdade é que o nosso SNS é como se fosse um doente transplantado, a quem o corpo está a rejeitar o transplante. Os invernos caóticos de quatro horas à espera para sermos atendidos.
A lembrança que tive da minha avó, sete horas numa maca no hospital público, posta a um canto, com uma pedra no rim até os meus gritos ecoarem pelos sete cantos do hospital, para que fosse atendida, pois tinha entrado em colapso sem ninguém dar conta! As macas a fazerem fila indiana nos corredores. Os hospitais privados a abarrotar. O SNS precisa de vários transplantes, é como um gato que tem sete vidas, só que não tem. E um dia esse gato morre. E o que será de nós?
E a verdade é que o trabalho de casa não foi feito. Quem devia ter preparado a segunda vaga, deixou-a crescer. Deixou-a amadurecer. Não se formaram profissionais nos cuidados intensivos! Não há enfermeiros e médicos intensivistas, só porque sim! É ir ali buscá-los recém-formados? Não.
O tempo que a pandemia nos ofereceu de bandeja no Verão serviu para alguma coisa? Não, vi os governantes irem a banhos! É claro, precisam de férias! E agora estamos perante um colapso iminente, e resta-nos, a prudência, o bom senso e a calma. Cuidar dos nossos pais e avós, com muito cuidado, alertar para a utilização da máscara, do distanciamento social, da preferência de pequenos eventos.
Eu não quero entrar em confinamento, não quero roubar à minha filha a sua infância e privar o meu pai da sua velhice. Para isso, tenho que chegar ao diálogo dos que me chamam ovelha e dos que concordam comigo, para que percebam que isto não são tempos de guerra mas tempos de coragem, quer estejamos de acordo ou não!