Rui Rio é presidente do PSD vai para três anos e tem sido profundamente subestimado. Não é um bem-amado, mas também nunca fez muito por isso, antes pelo contrário. Três anos volvidos, já podemos fazer um balanço da sua liderança. Disputou-a duas vezes, uma vez contra Pedro Santana Lopes, outra vez contra Luís Montenegro, com um intervalo de dois anos, ambas contra os herdeiros do passismo, e ganhou das duas vezes. Desembaraçou-se com facilidade de conselhos nacionais apresentados à imprensa como difíceis. Entre a primeira corrida eleitoral e a segunda perdeu umas eleições europeias e nem isso lhe custou a liderança do PSD. Para compararmos, António José Seguro perdeu o PS na sequência das eleições europeias de 2014 – que ganhou! – só porque António Costa declarou que o resultado era poucochinho, roubando-lhe a liderança de seguida.
Rui Rio não é mestre da oratória, não faz discursos empolgantes, não debita soundbytes. Deixou bem claro que não morre de amores pela retórica parlamentar, tendo escolhido para líder parlamentar Adão Silva, um homem que parece partilhar dessas mesmas características.
Se isto fosse futebol, e não é, Rui Rio não joga bonito, não faz floreados e nem gosta de chutar à baliza. Joga permanentemente à defesa, não sofrer golos parece ser o seu lema. Não se cansar, não despender energias, esperar que o adversário se canse e cometa erros, aguardar o momento certo para tentar o contra-ataque. Não é o Barcelona a jogar, é catenaccio à italiana. Não é fácil amar uma equipa assim, não é fácil gostar de um jogador assim.
Passos Coelho e a troika haviam polarizado o país. A geringonça foi o reverso dessa medalha. Uns e outros partiram o país ao meio. Metade ama, a outra metade odeia. Rui Rio, quem sabe se por tática, quer ir aguentando sem polarização, sem convocar amores nem ódios. Faz tudo para parecer o homem comum, com opiniões pouco ideológicas, pouco elaboradas, propositadamente vagas, difusas, de nim, uma no cravo, outra na ferradura.
Desde o último congresso do PSD, em fevereiro, na segunda disputa vitoriosa pela liderança e com a pandemia instalada desde março, Rui Rio obteve duas extraordinárias vitórias políticas. As cinco CCDR, futuras regiões, foram a votos e o PSD ganhou a presidência de duas, a do Norte e a do Centro. Não é despropositado afirmar que foi celebrado um autêntico Tratado de Tordesilhas: de Lisboa para baixo (Lisboa, Alentejo e Algarve) reina o PS. Também não é despiciendo afirmar que o PSD é, atualmente, um partido mais pujante a norte do que a sul.
A segunda vitória foi derrotar o PS nas eleições regionais dos Açores. Rui Rio agarrou no desconhecido José Manuel Bolieiro e fez dele vice-presidente do PSD em julho de 2019, adotando desde aí um discurso que sempre incluía as regionais dos Açores. O resultado está à vista: o PS, esperando uma maioria absoluta, perdeu as ilhas depois de 20 anos ininterruptos de poder.
O PSD tem a presidência das CCDR do Norte e do Centro e a presidência dos governos regionais dos Açores e da Madeira. Só a última não aconteceu sob a liderança de Rui Rio. Continuem a subestimá-lo, continuem.