Intensificam-se combates entre exército e forças separatistas na Etiópia

O secretário-geral da ONU, António Guterres, na quinta-feira, apelou a uma “desescalada imediata das tensões” no norte da Etiópia e à “resolução pacífica” das disputas entre as autoridades de Adis Abeba e de Tigray.

A escalada dos combates entre as forças do Governo etíope e as da região separatista de Tigray está a fazer cada vez mais feridos. De acordo com a Deutsche Welle (DW), quase 100 soldados etíopes foram tratados a ferimentos de bala num hospital de Amara, no norte do país, no passado domingo. 

Importa referir que uma interrupção nas comunicações em Tigray torna as declarações oficiais sobre o conflito difíceis de verificar, no entanto, nas estradas na parte norte da região de Amhara, são vistas ambulâncias a transportar combatentes feridos para os hospitais. Por outro lado, na cidade de Sanja, 98 soldados também foram feridos e um médico adiantou à AFP que "todos são soldados do Exército Nacional". O profissional de saúde pediu anonimato, mas realçou que não se constataram mortes no hospital, ainda que os casos mais graves tenham sido encaminhados para hospitais de maior dimensão como o da cidade de Gondar.

O primeiro-ministro, Abiy Ahmed, anunciou os "sucessos" dos soldados etíopes contra a Frente de Libertação do Povo Tigray. O primeiro-ministro decidiu substituir o chefe do Exército depois da notícia dos soldados feridos. A ONU alertou para o "agravamento do contexto humanitário".

Os relatos de soldados mortos e feridos têm aumentado, nos últimos dias, na região de Amhara. A DW lembrou que, nesta região, "um trabalhador de ajuda humanitária disse que três morreram e 35 ficaram feridos no sábado", sendo que na sexta-feira foram contabilizados 105 feridos e cinco mortos.

O governante vencedor do Prémio Nobel da Paz em 2019 arrecadou a distinção devido ao "seu importante trabalho para promover a reconciliação, a solidariedade e a justiça social", como foi divulgado pelo júri à época, sendo que o prémio visa também reconhecer "todas as partes interessadas que trabalham pela paz e reconciliação na Etiópia e nas regiões leste e nordeste da África".

Já no último sábado, o Parlamento – composto inteiramente por parlamentares da Frente Revolucionária Democrática do Povo Etíope (EPRDF) – aprovou uma resolução que permite ao Governo interferir na polícia regional de Tigray e formar um Governo de transição. Os dissidentes são acusados de "traição" até porque Ahmed ordenou o envio de tropas federais e aeronaves para Tigray, participando na escalada de rivalidade que não é recente. Esta ofensiva militar foi ordenada quando Ahmed acusou a Frente de Libertação do Povo Tigray de atacar uma base que o exército etíope mantém na cidade, desde o fim da guerra entre o território e a Eritreia, em 2009, para roubar armas, causando mortes. "Atacar as forças de defesa nacional é uma traição que o Governo Federal não quer perdoar", disse para justificar a operação militar que garante ter "objetivos claros, limitados e alcançáveis".

É de referir igualmente que um relatório da ONU datado de sábado exortou "todas as partes em conflito, em todos os níveis, a conceder acesso humanitário ininterrupto à população afetada" em Tigray, alertando que as perturbações relacionadas ao conflito estavam a "contribuir para o agravamento do contexto humanitário". Segundo esta entidade, a região abriga 100 mil deslocados etíopes, quase 100 mil refugiados e "aproximadamente 600 mil pessoas dependentes de ajuda alimentar". Em suma, quase nove milhões de pessoas perto das fronteiras de Tigray estão "em alto risco devido a este conflito", destacou a ONU, levantando a possibilidade de "deslocamentos massivos dentro e fora da Etiópia".

O secretário-geral da ONU, António Guterres, na quinta-feira, apelou a uma "desescalada imediata das tensões" no norte da Etiópia e à "resolução pacífica" das disputas entre as autoridades de Adis Abeba e de Tigray. "Estou profundamente alarmado com a situação na região etíope de Tigray. A estabilidade da Etiópia é importante para todo o Corno de África", escreveu recorrendo à rede social Twitter.