Face à tragédia da pandemia de covid-19, que já infetou 10,3 milhões de pessoas nos EUA e matou quase 250 mil, a primeira decisão do Presidente eleito, Joe Biden, foi nomear a sua task force contra o coronavírus. “A pandemia está a ficar significativamente mais preocupante por todo o país”, avisara o candidato democrata já na sexta-feira. “Quero que toda a gente saiba que desde o primeiro dia vamos pôr em ação o nosso plano para controlar este vírus”. Contudo, o Presidente continua a ser Donald Trump até 20 de janeiro, impedindo mudanças concretas por agora.
Em primeiro lugar, Biden assegurou que vai trabalhar com os governadores para garantir a obrigatoriedade nacional do uso de máscara em locais públicos – um modelo de outubro, citado na Nature, indica que isso poderia salvar mais de 100 mil vidas até fevereiro. No entanto, nos últimos meses, muitos governadores republicanos não só recusaram fazê-lo como até proibiram as câmaras municipais de aplicar esse tipo de restrições. Há grandes dúvidas de que o aceitem agora, e uma ordem executiva de Biden certamente seria desafiada em tribunal.
Depois seria preciso que houvesse máscaras suficientes para toda a gente – nos últimos meses têm faltado até para profissionais de saúde. A proposta de Biden é pegar na Lei de Produção para a Defesa, promulgada durante a Guerra da Coreia, para obrigar empresas privadas a produzir equipamento de proteção individual. Trump já o fizera anteriormente, mas muito esporadicamente, segundo a análise do instituto Congressional Research Service.
Outro foco é a investigação de uma vacina contra a covid-19, a chamada Operação Warp Speed, que fora o grande foco da administração Trump, ansiosa por novos fármacos para evitar confinamentos e restrições. Foram investidos milhares de milhões na investigação de uma vacina segura, mas a equipa de Biden considera que não se apostou o suficiente em desenvolver a estrutura para a sua produção em massa e distribuição, prometendo mais 25 mil milhões de dólares (equivalentes a 21,17 mil milhões de euros) para tal.
Além disso, a administração Biden também garantiu que não fará qualquer pressão política para uma aprovação antecipada da vacina. Era algo que preocupava muitos analistas, receosos de que Trump tentasse apressar os resultados para antes das eleições e que isso mobilizasse o crescente movimento contra a vacinação nos EUA.
As próprias farmacêuticas na corrida à vacina, normalmente em competição, juntaram-se para se comprometer a não cederem a pressões. Talvez por isso os resultados preliminares da Pfizer e da BioNTech só tenham saído mal se soube o vencedor das eleições norte-americanas (ver págs. 2 e 3).
Além disso, Joe Biden também prometeu expandir a capacidade de testagem dos EUA, garantindo “testes regulares, confiáveis e gratuitos” para todos, com aumento da produção de testes. Se o conseguirá ou não é outra questão, mas a mera promessa disso é muito diferente do que se ouvia do Presidente Trump, que prometeu publicamente diminuir a testagem para diminuir o número de casos registados – contudo, não há qualquer prova de que o tenha feito de facto.