Pandemia e trumpismo

Este estado de semi-emergência mais não é o culminar da tragédia que se vinha antecipando com os mais lúcidos a alertarem para a dimensão dos  números e suas consequências. 

Por Judite de Sousa

Jornalista

1. Como se previa, o desastre causado pela pandemia ganha todos os dias novas proporções. Este estado de semi-emergência mais não é o culminar da tragédia que se vinha antecipando com os mais lúcidos a alertarem para a dimensão dos  números e suas consequências. O que me parece mais inquietante não são as medidas de recolher obrigatório inevitáveis mas sim com o discurso errático do diz uma coisa hoje, outra amanhã. Nesta confusão comunicacional, há ainda muitas dúvidas e poucas respostas. O principal risco parece-me estar do lado da resposta do Serviço Nacional de Saúde com hospitais a já não conseguirem ter espaço aos doentes covid. Há muito que os médicos vem alertando para a dimensão do problema sem que tenham sido ouvidos convenientemente.  As próximas semanas serão decisivas para se avaliar da necessidade de mais medidas restritivas porque o que temos para já pode não ser suficiente.

2. As pessoas trocam olhares de estupefação. E quem diz que não há medo engana-se. Existe assim como também paira a perceção de que a situação tende a piorar. Esta semana atingiu-se o pico do número de óbitos: mais de oitenta com mais de cinco mil infetados. Pergunta-se: que efeitos terá o recolher obrigatório sobre a pandemia. Irá atenuar a dureza dos números ou será mais um paliativo. Cada dia que passa não traz boas notícias nem para a saúde nem para a economia que está um desastre.

3.Há quem defenda que sai Trump, mas permanece o trumpismo. Dificilmente. Trump governou para os desfavorecidos da globalização é mesmo esses voltaram-lhe as costas no momento do voto. Não há trumpismo porque não chegou a existir uma doutrina ou um esboço do que isso poderia ser. 
Joe Biden tem uma tarefa árdua: antes de mais, juntar os cacos de uma América desalinhada e dividida. Limar as fraturas que existem no país o que já de si não é pouco e encontrar uma nova voz no plano internacional. Veremos se está à altura.