A falta de candidatos no curso de ingresso na Polícia de Segurança Pública (PSP) – num total de mil vagas foram apenas aprovados 793 este ano – tem levado os sindicatos policiais a apontarem o dedo ao Governo e a optarem por manifestar o seu desagrado até de forma irónica. Sem respostas por parte do Estado perante a escassez de jovens a quererem ingressar na profissão, a Organização Sindical dos Polícias da PSP (OSP/PSP) vai avançar com um “protesto simbólico e sarcástico”, comprando 207 bonecos polícias – número de profissionais que faltam para completar as mil vagas – e levando-os a Torres Novas no dia em que começar o 16.o Curso de Formação de Agentes (CFA), que vai decorrer nesta cidade do distrito de Santarém, com data a definir. Ao i, o presidente da OSP/PSP, Pedro Carmo, sublinhou que esta é uma das formas que encontraram para o Governo “não se esquecer” deste “descalabro”.
“Estamos a pensar comprar mesmo 207 bonecos e, no dia em que se iniciar o curso, deixar em Torres Novas, como se fossem ingressar no próprio curso. É uma coisa sarcástica, para relembrar que realmente há falta de polícias e não deixar morrer a ideia. Porque até começar o curso, ainda vai demorar algum tempo. Não sei se vão começar até ao final deste ano. E o objetivo é voltar a lembrar a situação e que alguma coisa tem de ser feita para que as coisas mudem”, começou por dizer, reforçando que não se trata de uma “grande manifestação”, mas sim algo diferente que desperte a atenção de todos. “Vamos deixar lá mesmo na escola de polícias. Na portaria ou a alguém que queira receber. O objetivo é simbólico e alertar para o facto de as vagas não estarem completas. Estamos com falta de pessoal”, disse.
De acordo com a OSP/PSP, esta pode ser uma forma diferente de chegar ao Governo e alertar para os “vários problemas” existentes na profissão. “Vamos arranjar os 207 bonecos polícias nem que sejam da Playmobil. Acaba por ser uma brincadeira que não tem graça nenhuma, mas não deixa de ser uma coisa figurativa diferente do normal e que desperta a atenção das pessoas para um problema nosso. À partida, vamos só dois ou três entregar os bonecos. É como se fosse um caderno reivindicativo”, concluiu.
descredibilizar a polícia Além da falta de candidatos nos cursos de ingresso à profissão e também de condições e de atratividade, a OSP/PSP revelou ainda que os agentes se sentem cada vez mais descredibilizados.
“É também preocupação séria da OSP que esta mensagem, que se revela de caráter profissional, venha a revelar-se também no seio da sociedade portuguesa, cada vez mais pautada pela impunidade, desrespeito pelas regras básicas sociais e descredibilização das forças de segurança, que poderão, no futuro, pôr em causa a própria estabilidade democrática, ficando em causa o garante da segurança pública, com a conivência do regime político”, pode ler-se em comunicado. Mas, ao i, Pedro Carmo vai mais longe e garante que nem no Orçamento do Estado os polícias são mencionados.
“Vêm dar a desculpa da covid-19, mas isso são desculpas. O certo é que o diretor nacional da PSP alertou para o facto de alguma coisa não estar bem. E não podem ficar esquecidos. O Orçamento do Estado vai passar, as coisas vão passar, fala-se na covid-19. Há de piorar, melhorar ou passar, e os outros problemas sociais que Portugal enfrenta continuam a existir. Não podemos pôr o país para trás das costas por causa da pandemia. Por alguma razão mantêm os estabelecimentos abertos, que é para as coisas irem andando e haver o menor desemprego possível. É primordial haver segurança. Estamos cada vez mais a esquecer-nos disso. Neste Orçamento do Estado nem falam em nós, nas forças de segurança. Aliás, acho que este ano nem nos bombeiros e nos incêndios falaram. Já só há covid-19”, alertou.
No que diz respeito à pandemia, a Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP) já solicitou à Direção-Geral da Saúde que faça a atualização diária das listas fornecidas às forças e serviços de segurança dos infetados ou suspeitos de terem contraído a covid-19, para a fiscalização nas ruas ser feita com o maior rigor possível. Segundo as forças sindicais, as denúncias de que os isolamentos não estão a ser cumpridos partem de vizinhos ou conhecidos. Deste modo, as forças de segurança temem que os atrasos piorem ainda mais caso o número de novos casos continue a aumentar.