O ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes, acusado de quatro crimes pelo Ministério Público por alegadamente ter tido conhecimento da encenação da recuperação das armas roubadas de Tancos, mostrou-se esta quinta-feira muito surpreendido com a “facilidade quase absoluta” com que os paióis nacionais podiam ser assaltados. Ouvido na 8.a sessão do julgamento, no Tribunal de Santarém, Azeredo Lopes sublinhou ainda que o caso de Tancos era muito mais do que uma ”investigação criminal” e garantiu que não se tratou de um “assalto galáctico”.
“O caso de Tancos era muito mais do que só uma investigação criminal. Era saber o que aconteceu, o que justificou os paióis estarem naquele estado e o que se poderia fazer para nunca mais acontecer um furto. Devido à facilidade quase absoluta com que os paióis podiam ser assaltados, a questão crucial era, no que dependesse de mim, que isso nunca mais ia acontecer. Além disso, a perceção que havia na altura era que não foi um assalto galáctico, com criminosos globais, já que havia um informador [conhecido por Fechaduras]. E, se ele sabia que poderia haver um assalto, este não deveria ser particularmente difícil de resolver”, disse o ex-ministro.
Já no que respeita à encenação da recuperação do armamento, na Chamusca, em outubro de 2017, Azeredo Lopes garantiu que esteve sempre convicto de que não existia qualquer investigação “ilícita” por parte da Polícia Judiciária Militar. “Não tive dúvidas de que a PJM estava a atuar como coadjuvante”, adiantou.
Respostas claras
À saída do tribunal, o advogado do antigo ministro da Defesa, Germano Marques da Silva, confessou aos jornalistas que Azeredo Lopes falou em tribunal com características de quem é inocente e lançou críticas à fase de instrução do processo.
“Respondeu a todas as perguntas que lhe foram feitas e com clareza. Falou até demais, e isso é uma característica dos inocentes. Já a instrução não foi instrução, toda a gente sabe que nunca é naquele tribunal [Central de Instrução Criminal]”, atirou, criticando também o juiz Carlos Alexandre.
Azeredo Lopes, que se demitiu do cargo de ministro da Defesa em outubro de 2018, recorde-se, está acusado de denegação de justiça e prevaricação, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder e denegação de justiça, sendo acusado de ter conhecimento da encenação e aceitá-la, tendo a possibilidade de participar a irregularidade à Procuradoria-Geral da República.
O achamento das armas ocorreu praticamente em simultâneo com os incêndios que flagelaram o centro e norte do país nesse fim de semana de outubro, enquanto o roubo das armas dos paióis de Tancos coincidiu com a tragédia dos fogos de Pedrógão Grande e zonas envolventes, antes do verão, no mês de junho desse ano de 2017.