Por Judite Sousa, jornalista
1. Uma vez, há uns anos, perguntei a João Lobo Antunes como é que ele sentia o país, ao que respondeu : «Um país triste». É isso que me ocorre neste momento: um país corroído pelas mazelas da pandemia, da crise económica e social, da pobreza que já não é envergonhada e pelos olhares vagos dos mais frágeis com que nos vamos cruzando todos os dias.
2. Não sabemos o impacto real do recolher obrigatório que trancou os portugueses em casa no fim de semana, mas se a ideia era evitar ajuntamentos, o esforço pode não ter valido a pena. As concentrações da parte da manhã foram tão intensas que dificilmente o vírus desconhecido tenha encontrado território fértil para andar por aí.
3.As notícias sobre a vacina mais avançada são promissoras. E já todos compreenderam que só uma vacina consegue combater a pandemia e, mesmo assim, com efeitos que não serão imediatos. A ciência precisa de tempo e é nas mãos dos cientistas que estamos, governantes e governados.
4.Os números da realidade portuguesa são alarmantes e os médicos aí estão para colocar o dedo em cima da ferida: as unidades de cuidados intensivos da maioria dos hospitais está a ficar sem capacidade de resposta – tão elevada é já a ocupação – e a questão que alguns já equacionam é se não será necessária uma triagem dos casos mais graves que ocorram aos hospitais. Esperemos não chegar a esse momento.
5.Os efeitos da crise pandémica na restauração, e no comércio em geral, está à vista de todos. É desolador entrar em restaurantes vazios. As manifestações do passado fim de semana foram um grito de alarme. Um SOS. O Governo não pode por muito mais tempo ignorar a necessidade de mais medidas de auxílio. Sejam elas de que tipo for. Tal como está a situação é deprimente.