Ângela Barreto. Jihadista luso-holandesa detida na Turquia

A jovem tinha um mandado de captura internacional desde 2015.

Ângela Barreto tem 25 anos e mudou-se para a Síria há seis, quando decidiu juntar-se ao Daesh. Nesta quinta-feira, a revista SÁBADO avançou que a jovem jihadista conseguiu atravessar a fronteira entre a Síria e a Turquia, na companhia do filho – fruto do segundo casamento -, tendo-se apresentado no consulado da Holanda em Istambul. Está detida a aguardar teste de ADN – para confirmar que é a mãe do menino – após ter fugido do campo de Al Hol, onde esteve mais de um ano, com 13 outras mulheres. Segundo dados adiantados pelo órgão de informação anteriormente referido, a mulher "chegou à representação diplomática holandesa em Istambul esta segunda-feira, 23 de novembro" e, "ao pedir documentos de identificação para viajar, as autoridades souberam imediatamente de quem se tratava". Tal aconteceu porque, desde 2015, tem um mandado de captura internacional por pertencer a uma organização terrorista e por suspeitas de recrutamento para o terrorismo.

A SÁBADO noticiou, em 18 de novembro, que estas jihadistas "fugiram graças ao dinheiro reunido pelas suas famílias na Holanda e enviado para a Síria através de redes informais por Samir Azzouz, um dos mais conhecidos terroristas holandeses, parte da chamada rede Hofstadt, que em 2004 foi expulso de Portugal por suspeitas de estar a preparar um atentado terrorista antes do campeonato europeu de futebol desse ano". Desta forma, graças à maquia obtida, as mulheres pagaram a traficantes que as levaram até à região de Idlib, no norte da Síria, perto da fronteira com a Turquia. Alugaram uma "enorme casa com piscina onde tiraram várias fotografias.

A luso-holandesa – também conhecida por "viúva do Daesh" – vivia num campo do grupo radical islâmico situado no nordeste do país, com o marido Fábio Poças – que conheceu na Internet – e com os dois filhos. No entanto, em entrevista à RTP, em abril do ano passado, explicou que a filha de três anos tinha morrido no seio dos bombardeamentos constantes em Baghouz. "Um estilhaço da bomba ficou-lhe na cabeça. Esteve dez dias no hospital e nos primeiros cinco dias não me permitiram estar com ela. Ia todos os dias à direção do campo dizer que queria ir ter com a minha filha, mas diziam-me que não podia”, explicou à época. "Ainda bem que a minha filha partiu porque isto aqui não é fácil", lamentou a jihadista que também perdeu o marido, tendo em conta que Poças foi dado como desaparecido em combate. Na ótica de Ângela, "foi martirizado". Casou, assim, com Nero Saraiva, com quem teve o filho que está consigo na Turquia.

É de referir que Ângela Barreto manteve o relacionamento amoroso com Nero Saraiva até à derradeira batalha do Estado Islâmico, em Baghouz. Ambos foram feridos durante os bombardeamentos da coligação ocidental, separados e tiveram de se entregar às forças curdas. O marido esteve à guarda das Syrian Democratic Forces e foi posteriormente transferido pelas forças norte-americanas para uma zona desconhecida no Iraque e, então, a jovem foi para Al Hol onde esteve mais de um ano.

Na entrevista à RTP, a jihadista mostrou a crença na existência de um "estado que siga as regras do Islão", não negando a possibilidade de regressar a Portugal. Já este ano, em entrevista à SÁBADO, avançou: "Não concordo com as coisas que aconteceram no Estado Islâmico e que não estão de acordo com o Corão. Mas como disse, não fiz nada de errado. Era só uma doméstica e não sabia o que estava a acontecer lá fora. Por isso não fiz nada de que me possa arrepender. O que acontecer será por vontade de Deus. Por isso se tomarmos decisões que no final não resultem como planeado, foi Alá que o planeou assim. Sou apenas uma mãe normal que gosta de cozinhar e tomar conta do meu marido e filhos". A mulher asseverou igualmente que viajou para a Síria para "ajudar a população", dizendo que "não foram más intenções" que a levaram até ao país.