Quando a 13 de Maio de 1981 o Papa João Paulo II foi baleado na praça de São Pedro pelo turco Mehmet Ali Ağca parece que o mundo caiu naquele dia em cima dos ombros dos homens. Como era possível? Quem poderia querer mal a João Paulo II?
Três anos mais tarde é alvejado! Em plena praça!
Há um gesto do Papa João Paulo II que fica para as memórias históricas de todos. Já depois de ter saído da clínica e depois de terem prendido Ali Ağca, o Papa pede para estar com ele a sós. Visita-o na prisão e fica numa cadeira, sentado, junto àquele que o tentou matar. Perdoando-o…
Esta história passada com João Paulo II tem um paralelo na história de Bento XVI.
Joseph Ratzinger foi eleito Papa no ano de 2005 e um ano depois Paolo Gabriele, um leigo, começa a trabalhar de perto com Bento XVI. Ajuda-o nas coisas mais pequenas nos apartamentos papais, guia o papa móvel e colabora com ele em tudo o que era necessário. Era um dos poucos leigos que privavam diariamente com o Papa.
Paolo Gabriele era casado, tinha três filhos e vivia numa casa propriedade da Santa Sé. Ele ficou conhecido nos meios de comunicação como ‘o corvo’.
A história não é simples, mas conta-se em um parágrafo. No ano de 2011 e 2012 começam a aparecer na imprensa informações sobre documentos privados de Bento XVI. Algumas cartas e denúncias e muitas outras informações chegaram à imprensa sem se saber ao certo quem teria vazado para a imprensa informações de teor altamente privado.
Os investigadores da Santa Sé fizeram o percurso. Se apareciam cartas enviadas ao Papa a fazerem denúncias de irregularidades e essas cartas privadas tinham sido publicadas na íntegra ou em parte na imprensa, era só seguir o seu rasto. As cartas endereçadas ao Santo Padre entram na Secretaria de Estado do Vaticano e depois são devidamente tratadas para que se possa dar uma resposta. Logo, pensou-se imediatamente que alguém que trabalhava na Secretaria de Estado estivesse a dar informações para o exterior.
Mas seria? Como se poderia chegar ao conhecimento de quem estaria por detrás destas informações?
Parece ser algo muito complicado, mas foi muito simples desvendar depois de ter sido publicado um livro só com documentos confidenciais dirigidos ao Papa. E como é que descobriram? Simples! Ao lerem o livro, repararam que estavam não apenas correspondência e documentos confidenciais, como também anotações feitas nos mesmos documentos pelo próprio punho de Bento XVI.
Assim se chega ao conhecimento que não tinha sido uma fuga da Secretaria de Estado, mas de alguém que tinha acesso aos aposentos do Papa. E isso não era difícil de saber, porque apenas meia dúzia de pessoas podia entrar nos apostos papais.
No mesmo dia a Polícia vaticana entrou nas casas de todos os que trabalhavam junto de Bento XVI e encontrou na casa de Paolo Gabriele um digitalizador no valor de cinco mil euros e muitos documentos que tinham sido publicados. Foi julgado e condenado a um ano e meio de prisão.
Também Ratzinger a 22 de dezembro de 2012 visita o seu mordomo na prisão e concede-lhe o perdão. A Santa Sé concedeu-lhe a possibilidade de viver na mesma casa onde vivia com a sua família – o que veio a acontecer – e continuou a trabalhar para a Santa Sé, agora no Hospital Bambino Gesu.
Morreu esta semana, aos 54 anos, vitima de doença prologada na Clínica Gemeli. Morreu ‘O Corvo’!
Não sei qual dos dois é mais bravo, se João Paulo II ou se Bento XVI. João Paulo II perdoou a quem lhe quis tirar a vida, mas que não era do seu circulo de amigos ou confidentes. Bento XVI perdoou a quem o expos publicamente durante vários meses, sendo dos seus mais diretos colaboradores.