Para além do Covid

Hoje é dia 1 de Dezembro. Celebramos a independência de Portugal face a Espanha, mas celebramos fechados em casa, num recolher obrigatório e numa crescente dependência do cidadão face ao Estado.

por Pedro Antunes
Empresário

Para além do covid muito tem acontecido nestes últimos dias. Governo fecha escolas em dois dias úteis, por razões inúteis, mesmo online (não vá o vírus tornar-se digital). Governo dá ponte a funcionários públicos (já ninguém acha estranho), que com as escolas encerradas nada mais é que um convite a miniférias na terrinha (tipicamente noutro concelho). Governo proíbe a circulação entre concelhos (alguém viu algum controlo?) e cria recolher obrigatório em horários aleatórios, incoerentes e que promovem a concentração de pessoas em lojas. Tudo em nome de um combate à pandemia em que se quer distância social.

Algumas peripécias, dignas de um sketch do Monty Phyton, como um OE aprovado com decisões desastrosas e eventualmente inconstitucionais. Isto vindo da extrema esquerda (os aliados) e da irresponsabilidade de Rui Rio (nem sei como o descrever). Mas Costa já garantiu a Lagarde que o dinheiro vai ser pago e Marcelo já deve ter prometido devolver o documento ao parlamento.

Hoje venho falar de outro assunto. tópico recorrente, mas nunca é demais falar: habitação! É especialmente importante porque as notícias recentes são um sinal de que quem nos governa não mostra qualquer sinal de conhecimentos de (introdução à) economia.

Lisboa é gerida com os pés há décadas. Raro foi o Presidente da CML que não o fosse como passo para outros voos.

Antes da pandemia, já as limitações ao Alojamento Local tinha criado um forte travão à reabilitação das zonas históricas da cidade, além da já costumeira incompetência da CML. Com a pandemia a reabilitação está basicamente parada.

Infelizmente temos como Presidente da CML Fernando Medina, que é o protótipo do político profissional. Nunca trabalhou fora do Estado. Nunca teve uma função que não dependesse da sua posição ou rede no partido. É Presidente da CML quase por defeito e usa o cargo para outros voos. Não tem qualquer estratégia de como resolver a questão da habitação em Lisboa. Se sairmos do centro histórico de Lisboa, vemos a verdadeira Lisboa dos buracos e passeios esburacados e bairros degradados. Até agora foi tudo para (literalmente) inglês ver.

Agora vem com um ataque claro à propriedade privada, em tempos de crise e de maior dificuldade de acesso ao crédito. Anuncia que os imóveis devolutos vão passar a pagar seis a doze vezes mais de IMI já em 2021. Em todo o Concelho!

Vamos por de parte a discussão sobre se o IMI é um imposto que faz ou não sentido. Um agravamento de 6 a 12 vezes é um desejo deste executivo camarário. Além de ter dúvidas sérias sobre a constitucionalidade desta medida, o que é que se quer atingir? Trazer imóveis para o mercado, ao desbarato, em plena crise económica? Qualquer promotor imobiliário com alguma liquidez esfregará as mãos de contente… já que os proprietários que aguentam as incompetências da CML há anos, terão pressão para vender. Vai ser um festim de aquisições por parte de fundos, para habitação entrar no mercado dentro de 4 ou cinco anos… se tiverem sorte na CML! Claro que só se confiarem que amanhã Medina não se lembra de os penalizar de outra forma.

Há umas semanas já a vereadora da habitação, Paula Correia, dizia a seguinte frase “Temos de retirar a habitação da lógica de mercado”. Paula Correia tem desculpa, tirou um curso de teatro e claramente a experiência como vereadora não lhe ensinou nada de economia, ou habitação. A vereadora funciona com base num preconceito sobre a classe média que, nos últimos 10 anos, tem vindo a trazer vida para a cidade. Parafraseando a vereadora: há grandes desafios, que não existiam há 25 anos: o processo de gentrificação em curso. Quem me dera que a gentrificação fosse mais rápida! Significava que a classe média estava saudável.

Lisboa sofre do mesmo problema que Portugal. Décadas de governação de uma esquerda cada vez mais ideológica. Uma esquerda cada vez mais distante do cidadão médio. Uma esquerda cada vez mais desenvergonhada em criar a dependências do português médio ao Estado. Esta esquerda PS, que esqueceu as suas raízes pró-democráticas e, apesar de tudo, pró-mercado.

Hoje é dia 1 de Dezembro. Celebramos a independência de Portugal face a Espanha, mas celebramos fechados em casa, num recolher obrigatório e numa crescente dependência do cidadão face ao Estado.

P.S.: Estas políticas em Lisboa não deixam de ter um cheiro à guerra fria que se vê nascer pelo controlo do PS. A esquerda radical de Pedro Nuno Santos, contra a esquerda moderada de Fernando Medina. Uns esbanjam dinheiro na TAP, outros fazem medidas ineficazes em Lisboa. Tudo para conquistar posição e credenciais à esquerda. Nenhum está a pensar no país, nem na classe média.